SÉRIE: (77)A VIDA E OS ENSINAMENTOS DE JESUS - A fé de jesus - ULTIMA PARTE Esta
série foi extraída do Livro de Urântia. Os 77 capítulos, mais de 700
páginas, que ocupam um terço do livro, dão dia a dia, toda a vida de
Jesus Cristo desde sua infância. Dão 16 vezes mais informações sobre a
vida e os ensinamentos de Jesus do que a Bíblia. É o relato mais
espiritual sobre Jesus até hoje escrito.
A FÉ DE JESUS
Jesus
possuía uma fé sublime, e de todo o coração, em Deus. Ele experimentou
os altos e baixos comuns da existência mortal, mas religiosamente
nunca duvidou da certeza da vigilância e do guiamento de Deus. A sua fé
era fruto do discernimento nascido da atividade da presença divina do
seu Ajustador residente. A sua fé não era nem tradicional nem meramente
intelectual; era totalmente pessoal e puramente espiritual.
O
Jesus humano via Deus como sendo santo, justo e grande, assim como
verdadeiro, belo e bom. Todos esses atributos da divindade, ele os
focalizava na sua mente como a “vontade do Pai no céu”. O Deus de Jesus era, ao mesmo tempo, “O Santo de Israel” e “O Pai vivo e amoroso do céu”.
O conceito de Deus, como um Pai, não foi original de Jesus, mas ele
exaltou e elevou essa idéia como uma experiência sublime, realizando uma
nova revelação de Deus e proclamando que todo ser mortal é um filho
desse Pai de amor, um filho de Deus.
Jesus
não se apegou à fé em Deus como o faria uma alma que se debate em luta
contra o universo, ou que se agarra à luta de morte contra um mundo
hostil e pecaminoso; ele não recorreu à fé meramente como uma
consolação em meio a dificuldades, ou como um conforto em meio à ameaça
do desespero; a fé não era apenas uma compensação ilusória para as
realidades desagradáveis e os sofrimentos da vida. Ao enfrentar todas
as dificuldades naturais e as contradições temporais da existência
mortal, ele experimentou a tranquilidade da confiança suprema e
inquestionável em Deus e desfrutou a imensa emoção de viver, pela fé,
na própria presença do Pai celeste. E essa fé triunfante foi uma
experiência viva de realização real do espírito. A grande contribuição
de Jesus para os valores da experiência humana não foi haver revelado
tantas idéias novas sobre o Pai no céu, mas foi mais por ele haver, tão
magnífica e humanamente, demonstrado um tipo novo e mais elevado de fé
viva em Deus. Nunca, em todos os mundos deste universo, na vida de
qualquer mortal, Deus tornou-se uma tão viva realidade como na
experiência humana de Jesus de Nazaré.
Na
vida do Mestre, em Urântia, este e todos os outros mundos da criação
local descobriram um tipo novo e mais elevado de religião, baseada em
relações espirituais pessoais com o Pai Universal e totalmente validada
pela autoridade suprema da experiência pessoal genuína. Essa fé viva
de Jesus era mais do que uma reflexão intelectual, e não era uma
meditação mística.
A
teologia pode fixar, formular, definir e dogmatizar a fé, mas, na vida
humana de Jesus, a fé era pessoal, viva, original, espontânea e
puramente espiritual. Essa fé não era uma reverência à tradição, nem
uma mera crença intelectual que ele mantinha como um credo sagrado, mas
era mais uma experiência sublime e uma convicção profunda, que o
mantinha em segurança. A sua fé era tão real e todo-inclusiva que
varreu para longe, absolutamente, quaisquer dúvidas espirituais e
destruiu efetivamente todos os desejos conflitantes. Nada foi capaz de
afastá-lo de ancorar-se espiritualmente nessa fé fervorosa, sublime e
destemida. Mesmo na derrota aparente ou nas fortes dores do
desapontamento e do desespero ameaçador, ele permaneceu calmamente na
presença divina, livre de medo e totalmente consciente da
invencibilidade espiritual. Jesus desfrutou da certeza revigorante da
posse de uma fé inflexível e, em cada uma das situações de provação,
demonstrou infalivelmente uma lealdade inquestionável à vontade do Pai. E
essa fé magnífica não se intimidou, mesmo diante da ameaça cruel e
esmagadora de uma morte ignominiosa.
Em
um gênio religioso, uma fé espiritual muito forte, com freqüência,
leva diretamente ao fanatismo desastroso, ao exagero do ego religioso,
mas não aconteceu assim com Jesus. Ele não foi afetado
desfavoravelmente, na sua vida prática, pela sua extraordinária fé e
pela realização espiritual, porque essa exaltação espiritual era uma
expressão totalmente inconsciente e espontânea, na sua alma, da sua
experiência pessoal com Deus.
A
fé espiritual ardente e indomável de Jesus nunca se tornou fanática,
pois nunca chegou a afetar os seus julgamentos intelectuais equilibrados
a respeito dos valores correspondentes das situações sociais,
econômicas e morais, práticas e comuns da vida. O Filho do Homem foi uma
personalidade humana esplendidamente unificada; foi um ser divino
perfeitamente dotado; e era também magnificamente coordenado, como
combinação de ser humano e divino, funcionando na Terra como uma
personalidade única. O Mestre sempre coordenava a fé da alma com o juízo
da sabedoria da experiência amadurecida. A fé pessoal, a esperança
espiritual e a devoção moral foram sempre correlacionadas em uma unidade
religiosa sem par de associação harmoniosa com a compreensão profunda
da realidade e da sacralidade de todas as lealdades humanas – a honra
pessoal, o amor familiar, a obrigação religiosa, o dever social e a
necessidade econômica.
A fé de Jesus visualizou todos os valores do espírito como sendo encontrados no Reino de Deus; e por isso ele disse:“Buscai primeiro o Reino do céu”. Jesus viu, na fraternidade avançada e ideal do Reino, a realização e o cumprimento da “vontade de Deus”. A essência mesma da oração que ele ensinou aos seus discípulos foi: “Que venha a nós o vosso Reino; que a vossa vontade seja feita”.
E assim, tendo concebido o Reino como consistindo na vontade de Deus,
ele devotou-se à causa da sua realização com um auto-esquecimento
espantoso e um entusiasmo incontido. Mas, durante toda a sua intensa
missão e na sua vida extraordinária, a fúria do fanático nunca esteve
presente, nem a insignificância, de fachada, do egotista religioso.
A
vida inteira do Mestre foi condicionada, consistentemente, por essa fé
viva, por essa experiência religiosa sublime. Essa atitude espiritual
dominou totalmente o seu pensamento e o seu sentimento, a sua crença e a
sua oração, o seu ensinamento e a sua pregação. Essa fé pessoal de um
filho, na certeza e na segurança do guiamento e da proteção do Pai
celeste, conferiu à sua vida única um dom profundo de realidade
espiritual. E ainda, a despeito dessa profunda consciência de relação
íntima com a divindade, esse galileu, esse Galileu de Deus, quando era
chamado de Bom Mestre, imediatamente dizia:“Por que me chamais de bom?” Quando
nós nos defrontamos com um auto-esquecimento tão esplêndido, começamos
a compreender como o Pai Universal achou possível manifestar, tão
plenamente, a Si próprio, nele e revelar-Se por meio dele aos mortais
dos reinos.
Jesus levou a
Deus, como homem deste reino, a maior de todas as oferendas: a
consagração e a dedicação da sua própria vontade ao serviço majestoso
de fazer a vontade divina. Jesus sempre interpretou, e de um modo
consistente, a religião, nos termos totais da vontade do Pai. Quando
estudardes a carreira do Mestre, no que diz respeito à prece ou a
qualquer outro aspecto da vida religiosa, não procureis tanto o que ele
ensinou, mas deveis procurar o que ele fez. Jesus nunca orou por dever
religioso. Para ele, a prece foi uma expressão sincera da atitude
espiritual, uma declaração de lealdade da alma, uma demonstração da
devoção pessoal, uma expressão da gratidão, um modo de evitar a tensão
emocional, uma prevenção para os conflitos, uma exaltação intelectiva,
um enobrecimento do desejo, uma demonstração da decisão moral, um
enriquecimento do pensamento, um revigoramento das inclinações mais
elevadas, uma consagração do impulso, um esclarecimento de pontos de
vista, uma declaração de fé, uma rendição transcendental da vontade,
uma afirmação sublime de confiança, uma revelação de coragem, uma
proclamação da descoberta, uma confissão de devoção suprema, uma
validação da consagração, uma técnica de ajustamento das dificuldades e
uma mobilização poderosa, dos poderes combinados da alma, para
suportar todas as tendências humanas de egoísmo, mal e pecado. Ele
viveu exatamente uma vida na prece e na consagração devotada a fazer a
vontade do seu Pai e terminou a sua vida de modo triunfante, exatamente
com uma dessas orações. O segredo da sua vida religiosa sem par foi
essa consciência da presença de Deus; e ele a alcançou por meio da
oração inteligente e da adoração sincera – de comunhão ininterrupta com
Deus – e não por indicações, vozes, visões, nem por práticas
religiosas extraordinárias.
Na
vida terrena de Jesus, a religião foi uma experiência viva, um
movimento direto e pessoal da reverência espiritual à prática da
retidão. A fé de Jesus deu frutos transcendentais do espírito divino. A
sua fé não era imatura e crédula como a de uma criança, mas, sob
muitos pontos de vista, ela assemelhou-se à confiança, sem suspeitas,
da mente infantil. Jesus confiou em Deus, do mesmo modo que uma criança
confia em um pai. Ele tinha uma profunda confiança no universo –
exatamente a confiança que uma criança tem no ambiente dos seus pais. A
fé de Jesus, uma fé de todo o coração, na bondade fundamental do
universo, em muito se assemelhou à confiança que a criança tem na
segurança no seu meio ambiente terreno. Ele dependeu do Pai celeste,
tal uma criança se apóia no seu pai terreno, e a sua fé fervorosa
nunca, nem por um momento, duvidou da certeza de que o Pai celeste
velava por ele. Ele não se perturbava seriamente com temores, dúvidas e
ceticismos. A descrença não inibiu a expressão livre e original da sua
vida. Ele combinou a coragem sólida e inteligente de um homem
amadurecido, com o otimismo sincero e crente de uma criança confiante. A
sua fé cresceu, alcançando um nível tão elevado de confiança que era
desprovida de temores.
A
fé de Jesus atingiu a pureza da confiança de uma criança. A sua fé fo
tão absoluta e desprovida de dúvidas que se fez sensível ao encanto do
contato com os companheiros e às maravilhas do universo. O seu senso de
dependência do divino foi tão completo e tão confiante, que trouxe a
alegria e a certeza de uma segurança pessoal absoluta. Não houve nada
de hesitante e simulado na sua experiência religiosa. Nessa
inteligência gigantesca de um homem adulto, a fé da criança reinou,
suprema, em todas as questões relacionadas à consciência religiosa. Não
é estranho que uma vez ele haja dito: “Se não vos tornardes como crianças pequenas, não entrareis no Reino”. Não obstante a fé de Jesus ser como a de uma criança, não era infantil em nenhum sentido.
Jesus
não exige que os seus discípulos acreditem nele, mas que eles
acreditem junto com ele, que acreditem na realidade do amor de Deus e,
com toda a confiança, que aceitem a certeza da segurança da filiação ao
Pai celeste. O Mestre deseja que todos os seus seguidores compartilhem
totalmente da sua fé transcendente. Jesus, de um modo muito tocante,
desafiou os seus seguidores, não apenas a acreditarem naquilo em que ele
acreditava, mas também a acreditarem como ele acreditava. Esta é a
significação plena da sua única e suprema exigência: “Siga-me”.
A
vida terrena de Jesus foi devotada a um grande propósito – fazer a
vontade do Pai, viver a vida humana, religiosamente e pela fé. A fé de
Jesus foi confiante como a de uma criança, mas sem a menor presunção.
Ele tomou decisões firmes e viris, enfrentou corajosamente múltiplas
decepções, suplantou com resolução dificuldades extraordinárias e
cumpriu inabalavelmente os rudes requisitos do dever. Foi necessária uma
vontade forte e uma confiança firme para acreditar no que Jesus
acreditava, e como ele acreditava.
1. JESUS – O HOMEM
A
devoção de Jesus à vontade do Pai, e ao serviço do homem, representou
mais do que a decisão mortal e a determinação humana; foi uma
consagração, de todo o seu coração, à outorga de um amor sem reservas.
Não importa quão grande seja o fato da soberania de Michael, vós não
deveis privar os homens do Jesus humano. O Mestre ascendeu ao alto como
um homem, tanto quanto um Deus; ele pertence aos homens; e os homens
pertencem a ele. Que pena que a própria religião fosse ser tão mal
interpretada a ponto de esconder dos mortais atribulados o Jesus humano!
Que as discussões sobre a humanidade ou sobre a divindade do Cristo
não obscureçam a verdade salvadora de que Jesus de Nazaré foi um homem
religioso que, pela fé, chegou a conhecer e a fazer a vontade de Deus;
ele foi o homem mais religioso que já viveu em Urântia.
Os
tempos amadureceram o suficiente, a ponto de se poder constatar a
ressurreição simbólica do Jesus humano, saindo do seu túmulo, dentre as
tradições teológicas e os dogmas religiosos de dezenove séculos. Jesus
de Nazaré não deve mais ser sacrificado, nem mesmo ao conceito
esplêndido do Cristo glorificado. Que serviço transcendente seria
prestado se, por intermédio dessa revelação, o Filho do Homem fosse
retirado do túmulo da teologia tradicional para ser apresentado como o
Jesus vivo, à igreja que leva o seu nome, e para todas as outras
religiões! Seguramente a irmandade cristã de crentes não hesitaria em
fazer os ajustes de fé, e de práticas de vida, que a capacitassem a
poder “seguir o”
Mestre na demonstração da sua vida verdadeira de devoção religiosa, a
fazer a vontade do seu Pai, e à consagração ao serviço desinteressado
dos homens. Será que aqueles que chamam a si de cristãos professos temem
criar uma irmandade auto-suficiente e de respeitabilidade social não
consagrada, será que temem o desajuste econômico egoísta? Acaso a
cristandade institucionalizada teme que a autoridade eclesiástica
tradicional esteja em perigo, ou mesmo que seja arruinada, se o Jesus da
Galiléia for restabelecido nas mentes e nas almas dos homens mortais,
como o ideal de vida religiosa pessoal? Em verdade, os reajustes
sociais, as transformações econômicas, o rejuvenescimento moral e as
revisões religiosas da civilização cristã seriam drásticas e
revolucionárias se a religião viva de Jesus pudesse subitamente
suplantar a religião teológica sobre Jesus.
“Seguir Jesus”significa
compartilhar pessoalmente a fé religiosa dele e entrar no espírito da
vida do Mestre, consagrada ao serviço desinteressado dos homens. Uma
das coisas mais importantes, na vida humana, é encontrar aquilo em que
Jesus acreditava, é descobrir os seus ideais e lutar para a realização
do seu propósito elevado de vida. De todo o conhecimento humano, o que é
de maior valor é poder conhecer a vida religiosa de Jesus e como ele
viveu-a.
O povo comum
ouviu Jesus com alegria, e será de novo sensível à apresentação da sua
vida humana sincera de motivação religiosa consagrada, se essas
verdades forem novamente proclamadas ao mundo. O povo ouvia-o com
alegria porque ele era um deles, um leigo despretensioso; o maior de
todos os instrutores religiosos foi, em verdade, um leigo.
Não
deveria ser a meta dos crentes do Reino imitar literalmente os
aspectos exteriores da vida de Jesus na carne, mas sim compartilhar a
sua fé; confiar em Deus como ele confiou em Deus e acreditar nos homens
como ele acreditou nos homens. Jesus nunca discutiu, fosse sobre a
paternidade de Deus, fosse sobre a irmandade dos homens; ele foi uma
ilustração viva da primeira, e uma comprovação profunda da segunda.
Exatamente
como os homens devem progredir, da consciência do humano à compreensão
e realização do divino, assim Jesus ascendeu, desde a natureza de
homem à consciência da natureza de Deus. E o Mestre fez essa grande
ascensão, do humano ao divino, por meio da realização conjunta da fé do
seu intelecto mortal e dos atos do seu Ajustador residente. A
compreensão factual do alcançar da totalidade da divindade (ao mesmo
tempo plenamente consciente da realidade da sua humanidade) foi
acompanhada de sete estágios de consciência da fé de divinização
progressiva. Esses estágios de auto-realização progressiva ficaram
marcados pelos acontecimentos extraordinários seguintes, na experiência
de auto-outorga do Mestre:
1. A chegada do Ajustador do Pensamento. 2. O mensageiro de Emanuel, que apareceu para ele em Jerusalém quando ele tinha cerca de doze anos de idade. 3. As manifestações que acompanharam o seu batismo. 4. As experiências no monte da Transfiguração. 5. A ressurreição moroncial. 6. A ascensão espiritual. 7. O abraço final do Pai do Paraíso, conferindo-lhe a soberania ilimitada do seu universo. 2. A RELIGIÃO DE JESUS
Algum
dia, uma reforma na igreja cristã poderia causar um impacto
suficientemente profundo de retomada dos ensinamentos religiosos
inalterados de Jesus, o autor, a fonte e a realização da nossa fé. Vós
podeis pregar uma religião sobre Jesus, mas, por força, vós deveis viver
a religião de Jesus. No entusiasmo de Pentecostes, Pedro inaugurou
involuntariamente uma nova religião, a religião do Cristo ressuscitado e
glorificado. Mais tarde, o apóstolo Paulo transformou esse novo
evangelho no cristianismo, uma religião que incorporava as suas próprias
visões teológicas e que retratava a sua própria experiência pessoal
com o Jesus da estrada de Damasco. A boa-nova do evangelho do Reino
fundamenta-se na experiência religiosa pessoal do Jesus da Galiléia; o
cristianismo baseia-se quase que exclusivamente na experiência religiosa
pessoal do apóstolo Paulo. A quase totalidade do Novo Testamento é
devotada, não a retratar a vida religiosa, significativa e inspiradora,
de Jesus, mas a uma discussão da experiência religiosa de Paulo e a um
retrato das suas convicções religiosas pessoais. As únicas exceções
notáveis, dentro dessa afirmação, afora certas partes de Mateus, de
Marcos e de Lucas, são o Livro dos Hebreus e a Epístola de Tiago. Mesmo
Pedro, nos seus escritos, apenas uma vez reflete a vida pessoal
religiosa do seu Mestre. O Novo Testamento pode ser um documento cristão
esplêndido, mas é um documento que pouco tem de Jesus.
A
vida de Jesus na carne retrata um crescimento religioso transcendente,
desde as idéias iniciais do pavor primitivo e da reverência humana,
passando por anos de comunhão espiritual pessoal, até que ele
finalmente chegue àquele estado avançado e elevado de consciência da
sua unidade com o Pai. E assim, em uma curta vida, Jesus passou por
aquela experiência religiosa de progresso espiritual que o homem
começa, na Terra, e que comumente completa apenas ao concluir a sua
longa permanência nas escolas de aprendizado espiritual, nos níveis
sucessivos da sua carreira pré-paradisíaca. Jesus progrediu, partindo
de uma consciência puramente humana, das certezas da fé da experiência
religiosa pessoal, até as alturas espirituais sublimes da realização
efetiva da sua natureza divina e, daí, para a consciência da sua
associação íntima com o Pai Universal, a fim de dirigir um universo.
Ele progrediu do status humilde, de dependência mortal, que o levou
espontaneamente a dizer àquele que o chamou de Bom Mestre: “Por que me chamais de bom? Ninguém é bom a não ser Deus”, até aquele estado sublime de consciência, da divindade realizada que o levou a exclamar:“Qual dentre vós me sentencia de haver pecado?”
E essa ascensão progressiva, do humano ao divino, foi uma realização
exclusivamente mortal. E quando havia alcançado a divindade, assim, ele
era ainda o mesmo Jesus humano, o Filho do Homem, tanto quanto o Filho
de Deus.
Marcos, Mateus e
Lucas guardam alguma coisa do quadro do Jesus humano lançando-se na
luta magnífica para determinar a vontade divina e para cumprir essa
vontade. João apresenta um quadro do Jesus triunfante, caminhando na
Terra, na consciência plena da divindade. O grande erro, cometido por
aqueles que estudaram a vida do Mestre, é que alguns o conceberam como
inteiramente humano, enquanto outros o consideraram apenas como divino.
Durante toda a sua experiência ele foi, em verdade, tanto humano
quanto divino; como ainda agora o é.
Mas
o maior erro cometido consta de que, enquanto ficou reconhecido que o
Jesus humano possuía uma religião, o Jesus divino (Cristo)
transformou-se em uma religião, quase que da noite para o dia. O
cristianismo, de Paulo, assegurou a adoração do Cristo divino, mas quase
totalmente perdeu de vista o valente Jesus da Galiléia, humano, que
lutou pelo valor da sua fé religiosa pessoal, e o heroísmo do seu
Ajustador residente, que ascendeu do nível inferior da humanidade para
tornar-se um com a divindade, transfornando-se, assim, no novo caminho
vivo pelo qual todos os mortais podem ascender, dessa forma, da
humanidade à divindade. Os mortais, em todos os estágios de
espiritualidade e em todos os mundos, podem encontrar, na vida pessoal
de Jesus, tudo que os fortalecerá e inspirará, no seu progresso do nível
espiritual mais baixo, até os valores divinos mais elevados, do começo
ao fim de toda a experiência religiosa pessoal.
Na
época em que foi escrito o Novo Testamento, os autores não apenas
acreditavam muito profundamente na divindade do Cristo ressuscitado,
também acreditavam, devota e sinceramente, no seu retorno imediato à
Terra, para consumar o Reino celeste. Essa fé fortalecida no retorno
imediato do Senhor teve muito a ver com a tendência de omitir, dos
registros, aquelas referências que retratavam as experiências e os
atributos puramente humanos do Mestre. Todo o movimento cristão teve a
tendência de afastar-se do retrato humano de Jesus de Nazaré,
orientando-se para a exaltação do Cristo ressuscitado, o Senhor Jesus
Cristo glorificado, e que em breve retornaria.
Jesus
fundou a religião da experiência pessoal, ao fazer a vontade de Deus e
ao servir à irmandade humana; Paulo fundou uma religião, na qual o
Jesus glorificado tornou-se o objeto da adoração e a irmandade
consistiu dos irmãos que eram crentes do Cristo divino. Na dádiva
outorgada por Jesus, esses dois conceitos eram potenciais na sua vida
divina-humana e, em verdade, é uma pena que os seus seguidores não
houvessem conseguido criar uma religião unificada, que poderia ter dado
um reconhecimento próprio a ambas, à natureza humana e à natureza
divina do Mestre, tal como estavam inseparavelmente ligadas na sua vida
terrena e tão gloriosamente expostas no evangelho original do Reino.
Vós
não ficaríeis, nem chocados, nem perturbados pelos fortes
pronunciamentos de Jesus; e para isso basta que vos lembreis de que ele
foi o religioso mais devotado, e de todo o seu coração, em todo o
mundo. Ele era um mortal totalmente consagrado, dedicado, sem reservas,
a fazer a vontade do seu Pai. Muitas das suas afirmações,
aparentemente duras, eram mais como uma confissão pessoal de fé e uma
promessa de devoção, do que comandos dados para os seus seguidores. E
foi essa mesma singularidade de propósito, e de devoção não-egoísta,
que o capacitou a efetivar um progresso, tão extraordinário, na
conquista da mente humana, em uma vida tão curta. Muitas das suas
declarações deveriam ser consideradas como confissões do que ele exigia
de si próprio, em vez de uma exigência para todos os seus seguidores.
Na sua devoção à causa do Reino, Jesus queimou todas as pontes atrás de
si; ele sacrificou tudo o que pudesse ser um obstáculo para a
realização da vontade do seu Pai.
Jesus
abençoava os pobres, porque em geral eles eram sinceros e pios; ele
condenava os ricos, porque em geral eram devassos e irreligiosos. Ele
condenaria igualmente os pobres irreligiosos e louvaria os ricos
consagrados e pios.
Jesus
fez os homens sentirem-se, no mundo, como se estivessem em casa; ele
os libertou do tabu escravizador e ensinou a eles que o mundo não é
fundamentalmente mau. Ele não almejou escapar da sua vida terrestre;
ele dominou uma técnica de fazer a vontade do Pai de um modo aceitável,
enquanto na carne. Ele atingiu uma vida religiosa idealista, em meio,
mesmo, a um mundo realista. Jesus não partilhou da visão pessimista que
Paulo tinha da humanidade. O Mestre via os homens como filhos de Deus e
anteviu um futuro magnífico e eterno para aqueles que escolhiam
sobreviver. Ele não foi um cético moral; ele via o homem positivamente,
não negativamente. Ele via a maioria dos homens como fracos, mais do
que como perversos, mais como perturbados do que depravados. Mas, não
importando o status deles, eram todos filhos de Deus e irmãos seus.
Ele
ensinou os homens a dar um elevado valor a si próprios, no tempo e na
eternidade. Por causa dessa estima elevada, que Jesus tinha pelos
homens, ele estava disposto a dedicar-se ao serviço ininterrupto da
humanidade. E foi esse infinito apreço ao finito, o que fez da regra de
ouro um fator vital na sua religião. Que mortal deixaria de se elevar
pela fé extraordinária que Jesus tinha nele?
Jesus
não propôs regras para o avanço social; a sua missão era religiosa; e a
religião é uma experiência exclusivamente individual. A última meta, e
de realização mais avançada da sociedade, não pode esperar nunca
transcender a fraternidade que Jesus ofereceu aos homens: baseando-a no
reconhecimento da paternidade de Deus. O ideal de toda a realização
social apenas pode ser cumprido com a vinda deste Reino divino.
3. A SUPREMACIA DA RELIGIÃO A
experiência espiritual religiosa pessoal é uma solução eficiente para a
maior parte das dificuldades mortais; ela seleciona, avalia e ajusta
eficazmente todos os problemas humanos. A religião não remove, nem
destrói os problemas humanos, mas dissolve-os, absorve-os, ilumina-os e
transcende-os. A verdadeira religião unifica a personalidade,
preparando-a para ajustar efetivamente todas as exigências mortais. A fé
religiosa – o guiamento efetivo da presença divina residente –
capacita, infalivelmente, o homem sabedor de Deus a lançar uma ponte
sobre o abismo existente entre a lógica intelectual que reconhece a
Primeira Causa Universal como sendo um Isso, de um lado, e aquelas
afirmações efetivas da alma que declaram que essa Primeira Causa é Ele, o
Pai Universal do evangelho de Jesus, o Deus pessoal da salvação
humana.
Há apenas três
elementos na realidade universal: o fato, a idéia e a relação. A
consciência religiosa identifica essas realidades como ciência,
filosofia e verdade. A consciência filosófica estaria inclinada a ver
essas atividades como razão, sabedoria e fé – a realidade física, a
realidade intelectual e a realidade espiritual. O nosso hábito é
designar essas realidades como coisa, significado e valor.
A
compreensão progressiva da realidade é equivalente a uma aproximação
de Deus. A descoberta de Deus, a consciência da identidade com a
realidade, é equivalente à experiência do eu completo, da inteireza do
eu, da totalidade do eu. O experienciar da realidade total é a
compreensão-realização plena de Deus, a finalidade da experiência de
conhecer a Deus.
A
somatória total da vida humana é o conhecimento de que o homem é
educado pelo fato, enobrecido pela sabedoria e salvo – justificado –
pela fé religiosa. A certeza
física consiste na lógica da ciência; a certeza moral, na sabedoria da
filosofia; a certeza espiritual, na verdade da experiência religiosa
autêntica.
A mente do
homem pode alcançar altos níveis de discernimento espiritual, e esferas
correspondentes de divindade de valores, porque ela não é totalmente
material. Há um núcleo espiritual na mente do homem – o Ajustador, de
presença divina. Há três evidências distintas de que esse espírito
reside na mente humana:
1.
A comunhão humanitária – o amor. A mente puramente animal pode ser
gregária por autoproteção, mas apenas o intelecto residido pelo espírito
é altruísta de um modo não-egoísta e ama incondicionalmente.
2.
A interpretação do universo – a sabedoria. Apenas a mente residida
pelo espírito pode compreender que o universo é amigável para com o
indivíduo.
3.
A avaliação espiritual da vida – a adoração. Apenas o homem residido
pelo espírito pode compreender-realizar a presença divina e buscar
atingir uma experiência mais plena a partir desse gosto antecipado de
divindade.
A mente
humana não cria valores reais; a experiência humana não gera o
discernimento universal. Quanto a esse discernimento, o reconhecimento
dos valores morais e o discernimento dos significados espirituais, tudo o
que a mente humana pode fazer é descobrir, reconhecer, interpretar e
escolher.
Os valores
morais do universo tornam-se uma posse intelectual, pelo exercício dos
três julgamentos básicos, ou escolhas, da mente mortal:
1. O autojulgamento – a escolha moral.
2. O julgamento social – a escolha ética.
3. O julgamento de Deus – a escolha religiosa.
Assim, parece que todo o progresso é efetuado por uma técnica conjunta de evolução revelacional.
Se
um amante divino não vivesse no homem, ele não poderia amar generosa e
espiritualmente. Se um intérprete não vivesse na mente do homem, ele
não poderia verdadeiramente compenetrar-se da unidade do universo. Se
um bom avaliador não residisse dentro do homem, ele possivelmente não
poderia apreciar os valores morais e reconhecer os significados
espirituais. E esse amante provém da fonte mesma do amor infinito;
aquele intérprete é uma parte da Unidade Universal; e o avaliador é
filho do Centro e Fonte de todos os valores absolutos da realidade
divina e eterna.
A
avaliação moral, daquilo que tem um significado religioso – o
discernimento espiritual –, denota a escolha do indivíduo entre o bem e
o mal, a verdade e o erro, o material e o espiritual, o humano e o
divino, o tempo e a eternidade. A sobrevivência humana é, em uma grande
medida, dependente da consagração da vontade humana à escolha daqueles
valores destacados por esse selecionador-de-valores-espirituais – o
intérprete e unificador residente. A experiência religiosa pessoal
consiste de duas fases: a descoberta, na mente humana, e a revelação do
espírito divino residente. Por meio de uma super-sofisticação ou como
resultado da conduta irreligiosa de pretensos religiosos, um homem, ou
mesmo uma geração de homens, pode escolher suspender os seus esforços
para descobrir o Deus que reside neles; eles podem deixar de progredir e
de alcançar a revelação divina. Mas tais atitudes, de não progressão
espiritual, não podem perdurar por muito tempo, por causa da presença e
da influência do Ajustador do Pensamento residente.
Essa
experiência profunda, com a realidade do residente divino, transcende,
para sempre, a rude técnica materialista das ciências físicas. Vós não
podeis colocar a alegria espiritual sob a observação de um
microscópio; vós não podeis pesar o amor em uma balança; vós não podeis
medir os valores morais; nem podeis estimar a qualidade da adoração
espiritual. Os hebreus
possíam uma religião de sublimidade moral; os gregos fizeram evoluir uma
religião da beleza; Paulo e os seus confrades fundaram uma religião de
fé, de esperança e de caridade. Jesus revelou e exemplificou uma
religião de amor: a segurança no amor do Pai, com alegria e satisfação
conseqüentes de compartilhar esse amor no serviço da fraternidade
humana.
Toda vez que o
homem faz uma escolha moral de reflexão, ele experiencia imediatamente
uma nova invasão divina na sua alma. A escolha moral é parte da
religião, como motivo de resposta interna às condições externas. E essa
religião real não é uma experiência puramente subjetiva. Ela significa
o conjunto da subjetividade do indivíduo, empenhado em uma resposta
significativa e inteligente à objetividade total – o universo e o seu
Criador.
A experiência
extraordinária e transcendente de amar e de ser amado não é apenas uma
ilusão psíquica, porque é tão puramente subjetiva. A única realidade
verdadeiramente divina e objetiva, que é associada aos seres mortais, o
Ajustador do Pensamento, funciona para a observação humana,
aparentemente, como um fenômeno exclusivamente subjetivo. O contato do
homem com a realidade objetiva mais elevada, Deus, dá-se apenas por
intermédio da experiência puramente subjetiva de conhecê-Lo, de
adorá-Lo, de realizar a filiação a Ele.
A
verdadeira adoração religiosa não é um monólogo fútil de
auto-enganação. A adoração é uma comunicação pessoal com o que é
divinamente real, com aquilo que é a fonte mesma da realidade. Por
intermédio da adoração, o homem aspira a ser melhor e por meio dela
finalmente ele alcança o melhor.
A
idealização da verdade, da beleza e da bondade, e o serviço prestado a
elas, não é um substituto para a experiência religiosa genuína – a
realidade espiritual. A psicologia e o idealismo não equivalem à
realidade religiosa. As projeções feitas pelo intelecto humano podem de
fato originar deuses falsos – deuses à imagem do homem –, mas a
verdadeira consciência de Deus não tem tal origem. A consciência de
Deus habita em nós, na presença do espírito residente. Muitos dos
sistemas religiosos do homem vêm de formulações do intelecto humano,
mas a consciência de Deus não vem necessariamente como uma parte de
sistemas grotescos de escravidão religiosa.
Deus
não é uma mera invenção do idealismo do homem; Ele é a fonte mesma de
todos os discernimentos e valores supra-animais. Deus não é uma
hipótese formulada para unificar os conceitos humanos da verdade, da
beleza e da bondade; Ele é a personalidade de amor, de Quem se derivam
todas essas manifestações do universo. A verdade, a beleza e a bondade
no mundo do homem são unificadas pela espiritualidade crescente da
experiência dos mortais que ascendem às realidades do Paraíso. A
unidade na verdade, na beleza e na bondade só pode ser realizada na
experiência espiritual da personalidade conhecedora de Deus.
A
moralidade é o solo preexistente essencial, da consciência pessoal de
Deus; é a realização pessoal da presença interna do Ajustador, mas essa
moralidade não é, nem a fonte da experiência religiosa, nem o
discernimento espiritual resultante. A natureza moral é supra-animal,
mas é subespiritual. A moralidade é equivalente ao reconhecimento do
dever, à compreensão-realização da existência do certo e do errado. A
zona moral que se interpõe entre o tipo de mente animal e os tipos
humanos de mente, como a moroncial, funciona entre a esfera material e a
espiritual de realização da personalidade.
A
mente evolucionária é capaz de descobrir a lei, a moral e a ética; mas
o espírito outorgado, o Ajustador residente, revela, à mente humana em
evolução, o provedor da lei, o Pai-fonte de tudo o que é verdadeiro,
belo e bom; e um homem, assim iluminado, tem uma religião e está
espiritualmente equipado para começar a longa e aventurosa busca de
Deus.
A moralidade não é
necessariamente espiritual; ela pode ser pura e integralmente humana;
se bem que a verdadeira religião acentue todos os valores morais,
tornando-os mais significativos. A moralidade sem religião não consegue
revelar a bondade última, e também não consegue assegurar a
sobrevivência; nem a dos seus próprios valores morais. A religião
assegura a elevação, a glorificação, e a sobrevivência de tudo o que a
moralidade reconhece e aprova.
A
religião está acima da ciência, da arte, da filosofia, da ética e da
moral, mas sem ser independente delas. E estão, todas estas,
indissoluvelmente inter-relacionadas na experiência humana, pessoal e
social. A religião é a suprema experiência do homem, enquanto ele
permanece na sua natureza mortal; mas a linguagem finita torna, para
sempre, impossível à teologia retratar adequadamente a experiência
religiosa verdadeira.
O
discernimento religioso possui o poder de transformar a derrota em
desejos mais elevados e em novas determinações. O amor é a mais elevada
motivação que o homem pode utilizar na sua ascensão no universo. Mas o
amor, despojado da verdade, da beleza e da bondade, é um sentimento
apenas, uma distorção filosófica, uma ilusão psíquica, um engano
espiritual. O amor deve ser sempre redefinido em níveis sucessivos de
progressão moroncial e de progressão espiritual.
A
arte resulta da tentativa do homem de escapar da falta de beleza no
seu meio ambiente material; é um gesto na direção do nível moroncial. A
ciência é o esforço do homem para resolver os enigmas aparentes do
universo material. A filosofia é uma tentativa do homem de unificar a
experiência humana. A religião é o gesto supremo do homem, o seu
magnífico movimento, na tentativa de alcançar a realidade final, na sua
determinação de encontrar Deus e de ser como Ele. No
domínio da experiência religiosa, a possibilidade espiritual é uma
realidade potencial. O impulso espiritual que leva o homem a avançar
não é uma ilusão psíquica. Pode ser que nem toda a fantasia do homem
sobre o universo seja um fato, mas muito nela é verdadeiro.
A
vida de alguns homens é grande e demasiadamente nobre para se abaixar
ao nível de um sucesso conquistado. O animal deve adaptar-se ao meio
ambiente, mas o homem religioso transcende o seu ambiente e, desse
modo, escapa das limitações do mundo material presente, por meio desse
discernimento do amor divino. Esse conceito de amor gera, na alma do
homem, aquele esforço supra-animal para encontrar a verdade, a beleza e
a bondade; e quando as encontra, ele é glorificado no abraço delas; e é
consumido pelo desejo de vivê-las e cumpri-las segundo a retidão.
Não
vos desencorajeis; a evolução humana ainda está em progresso, e a
revelação de Deus ao mundo, em Jesus e através de Jesus, não deixará de
acontecer.
O
grande desafio ao homem moderno é realizar uma comunicação melhor com o
Monitor divino que reside dentro da mente humana. A maior aventura do
homem na carne consiste no esforço, bem equilibrado e sadio, de
ultrapassar as fronteiras da autoconsciência penetrando nos domínios
imprecisos da consciência embrionária da alma, em um esforço, de todo o
seu coração, para alcançar a região fronteiriça da consciência do
espírito – esse, o contato com a divina presença. Essa experiência
constitui a consciência de Deus, uma experiência que confirma, de um
modo poderoso, a verdade preexistente da experiência religiosa de
conhecer a Deus. Uma consciência tal, do espírito, é equivalente ao
conhecimento da factualidade da filiação a Deus. De qualquer outro modo,
a certeza da filiação é uma experiência de fé.
E
a consciência de Deus é equivalente à integração do eu com o universo,
nos seus níveis mais elevados de realidade espiritual. Apenas o
conteúdo espiritual, de qualquer valor, é imperecível. Aquilo que é
mesmo verdadeiro, belo e bom não pode perecer, pois, na experiência
humana. Se o homem escolher a não-sobrevivência, então o Ajustador
sobrevivente conservará, consigo, aquelas realidades nascidas do amor e
nutridas pelo serviço. E todas essas coisas são uma parte do Pai
Universal. O Pai é amor vivo, e a vida do Pai está nos seus Filhos. E o
espírito do Pai está nos filhos dos seus Filhos – os homens mortais.
Quando tudo estiver dito e feito, a idéia de um Pai será ainda o
conceito humano mais elevado de Deus. CLIQUE AQUI(Hierarquia e Biblioteca Cósmica) para acompanhar a série completa.
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SÉRIE: (76)A VIDA E OS ENSINAMENTOS DE JESUS - Depois de pentecostes Esta
série foi extraída do Livro de Urântia. Os 77 capítulos, mais de 700
páginas, que ocupam um terço do livro, dão dia a dia, toda a vida de
Jesus Cristo desde sua infância. Dão 16 vezes mais informações sobre a
vida e os ensinamentos de Jesus do que a Bíblia. É o relato mais
espiritual sobre Jesus até hoje escrito.
DEPOIS DE PENTECOSTES
Os
resultados da pregação de Pedro, no Dia de Pentecostes, foram tais que
decidiram sobre as políticas futuras e determinaram os planos da
maioria dos apóstolos, nos seus esforços para proclamar o evangelho do
Reino. Pedro foi o verdadeiro fundador da igreja cristã; Paulo levou a
mensagem cristã aos gentios, e os crentes gregos difundiram-na por todo
o império romano.
Embora
o povo hebreu, limitado às tradições e dominado pelos sacerdotes,
enquanto povo, se recusasse a aceitar, fosse o evangelho de Jesus, da
paternidade de Deus e da irmandade dos homens, fosse a proclamação de
Pedro e de Paulo, da ressurreição e da ascensão de Cristo (o
cristianismo subseqüente), todo o restante do império romano acabou
sendo receptivo aos ensinamentos cristãos que evoluíam. Nesse momento a
civilização ocidental estava intelectualmente cansada da guerra e
encontrava-se também profundamente cética a respeito de todas as
religiões e filosofias existentes sobre o universo. Os povos do mundo
ocidental, beneficiários da cultura grega, tinham uma respeitável
tradição de um passado grandioso. Eles podiam contemplar a herança de
grandes realizações na filosofia, na arte, na literatura e nos
progressos políticos. Mas, ao lado de todas essas realizações, não
tinham tido nenhuma religião que satisfizesse à alma. Os seus anseios
espirituais permaneciam insatisfeitos.
E
subitamente, sobre tal cenário da sociedade humana, foram lançados os
ensinamentos de Jesus, adotados na mensagem cristã. Uma nova ordem de
vida, assim, foi apresentada aos corações insaciados desses povos do
Ocidente. Essa situação significava um conflito imediato entre as
práticas religiosas mais antigas e a nova versão cristianizada da
mensagem de Jesus ao mundo. Um tal conflito resultaria em uma vitória
definida, fosse da nova crença, ou da mais antiga, ou fosse em algum
grau de concessões feitas por alguma dessas partes. A história mostra
que a luta levou a um comprometimento sob a forma de concessões. O
cristianismo presumiu abranger coisas demasiadamente maiores do que
qualquer povo pudesse assimilar em uma ou duas gerações. Não se tratava
de uma chamada espiritual simples, como a que Jesus havia apresentado à
alma dos homens; abrangia, desde muito cedo, uma atitude sobre os
rituais religiosos, a educação, a magia, a medicina, a arte, a
literatura, a legislação, o governo, a moral, a regulamentação do sexo,
a poligamia e, em um grau limitado, até mesmo a escravidão. O
cristianismo não veio meramente como uma nova religião – como algo pelo
qual todo império romano e todo Oriente estivessem esperando – mas
como uma nova ordem de sociedade humana. E, com uma tal pretensão,
precipitou rapidamente o colapso moral-social das idades. Os ideais de
Jesus, tal como foram reinterpretados pela filosofia grega e
socializados pela cristandade, desafiavam agora, com ousadia, as
tradições da raça humana, incorporados na ética, na moralidade e na
religião da civilização ocidental.
De
início, o cristianismo conseguiu convertidos apenas nos estratos
sociais e econômicos mais baixos. Mas, por volta do segundo século, o
melhor da elite da cultura greco-romana, se voltava cada vez mais para
essa nova ordem de crença cristã, para esse novo conceito de propósito
de vida e meta de existência.
Como
é que essa nova mensagem, de origem judaica, que quase fracassara na
sua terra de nascimento, capturou tão rápida e eficazmente o melhor
mesmo das mentes do império romano? O triunfo do cristianismo sobre as
religiões filosóficas e os cultos dos mistérios deveu-se aos fatores:
1. A organização. Paulo era um grande organizador e os seus sucessores mantiveram o ritmo que ele estabeleceu.
2. O cristianismo estava profundamente helenizado. Abrangia o melhor da filosofia grega, bem como a nata da teologia hebraica.
3.
Mas, melhor do que tudo, trazia em si um ideal novo e grande, o eco da
vida auto-outorgada de Jesus e o reflexo da sua mensagem de salvação,
para toda a humanidade.
4.
Os líderes cristãos estavam dispostos a fazer concessões ao mitraísmo,
pois a melhor metade dos que haviam aderido ao cristianismo fora
conquistada ao culto da Antióquia.
5.
Do mesmo modo, a próxima e mais recente das gerações de líderes da
cristandade fez outras concessões mais ao paganismo, tanto que até
Constantino, o imperador romano, foi conquistado para a nova religião.
E
os cristãos fizeram uma barganha astuta com os pagãos, pois adotaram a
pompa ritualística dos pagãos obrigando-os a aceitar a versão
helenizada do cristianismo paulino. O acordo que fizeram com os pagãos
foi melhor do que aquele que concluíram com o culto mitraico, mas,
mesmo naquele compromisso inicial de concessão, eles saíram mais do que
vencedores, pois tiveram êxito em eliminar as imoralidades grosseiras e
também numerosas outras práticas repreensíveis do mistério persa.
Esses
líderes iniciais da cristandade, sabiamente ou não, comprometeram
deliberadamente os ideais de Jesus, em um esforço para salvar e promover
muitas das suas idéias, e nisso eles tiveram um êxito eminente. Mas
não vos enganeis! Esses ideais do Mestre, ainda que comprometidos,
estão latentes no seu evangelho e terminarão por fazer valer todo o seu
poder diante do mundo.
Por
meio dessa paganização do cristianismo, a velha ordem teve muitas
vitórias menores, de natureza ritualista, mas os cristãos ganharam a
ascendência, pois:
1. Foi tocada uma nota da moral humana, uma nota nova e de conotação enormemente mais elevada. 2. Um conceito novo e ampliado de Deus foi passado ao mundo. 3. A esperança de imortalidade tornou-se um ponto de reafirmação, dentro de uma religião reconhecida. 4. Jesus de Nazaré foi dado à alma sedenta do homem.
Muitas
das grandes verdades, ensinadas por Jesus, foram quase perdidas nesses
comprometimentos e concessões iniciais, mas elas ainda permanecem como
que adormecidas nessa religião de cristianismo paganizado, que é, por
sua vez, a versão paulina da vida e dos ensinamentos do Filho do Homem.
E o cristianismo, mesmo antes de ser paganizado, foi profundamente
helenizado. O cristianismo deve muito aos gregos, bastante mesmo. Um
grego, vindo do Egito, muito corajosamente levantou-se em Nicéia e tão
destemidamente desafiou a assembléia, que o concílio não ousou
obscurecer o conceito da natureza de Jesus; pois a verdade mesma da
auto-outorga havia estado em perigo de ser perdida para o mundo. O nome
desse grego foi Atanásio e, não fosse a eloqüência e lógica desse
crente, a força persuasiva de Ários teria triunfado.
1. A INFLUÊNCIA DOS GREGOS
A
helenização da cristandade, na realidade, começou naquele dia
memorável em que o apóstolo Paulo, diante do conselho de Areópagos, em
Atenas, falou aos atenienses sobre “o Deus Desconhecido”.
Lá, à sombra da Acrópolis, esse cidadão romano proclamou aos gregos a
sua versão da nova religião, que havia tido origem na terra judaica da
Galiléia. E havia coisas estranhamente semelhantes entre a filosofia
grega e muitos dos ensinamentos de Jesus. Eles tinham uma meta em comum –
ambos visavam o soerguimento do indivíduo. Os gregos, por meio da
emergência social e política do indivíduo; e Jesus, por meio da
emergência moral e espiritual do homem. Os gregos ensinavam o
liberalismo intelectual que conduzia à liberdade política; Jesus
ensinava o liberalismo espiritual que conduzia à liberdade religiosa.
Essas duas idéias, colocadas juntas, constituíam um novo e poderoso
código para a liberdade humana, e prognosticavam, para o homem, a sua
liberdade social, política e espiritual.
O cristianismo veio à existência e triunfou sobre todas a religiões, então em contenda, principalmente por causa de duas coisas:
1. A mente grega estava disposta a tomar emprestadas idéias novas e boas, ainda que fosse dos judeus. 2.
Paulo e os seus sucessores estavam dispostos a comprometerem-se, mas
fazendo concessões astuciosas e sagazes; eles eram negociantes
teológicos perspicazes.
Na época, Paulo dirigiu-se a Atenas pregando “Cristo, e o Cristo Crucificado”,
os gregos estavam espiritualmente sedentos; encontravam-se em uma
busca inquiridora, interessada e, na realidade, à procura da verdade
espiritual. Nunca vos esqueçais de que a princípio os romanos combateram
o cristianismo, enquanto os gregos adotaram-no; e de que foram os
gregos que literalmente forçaram os romanos, subseqüentemente, a aceitar
essa nova religião, já então modificada como uma parte da cultura
grega.
Os gregos
veneravam a beleza, os judeus a santidade; mas ambos os povos amavam a
verdade. Durante séculos os gregos pensaram e debateram seriamente
sobre todos os problemas humanos – sociais, econômicos, políticos e
filosóficos –, exceto sobre a religião. Poucos entre os gregos haviam
dado atenção maior à religião; eles não levavam muito a sério nem a
própria religião. Durante séculos os judeus haviam negligenciado esses
outros campos do pensamento ao devotar as suas mentes à religião. Eles
levavam a própria religião bastante a sério, talvez até em demasia.
Iluminado pelo conteúdo da mensagem de Jesus, o produto de séculos de
pensamento desses dois povos, agora unidos, transformavam-se na força
motriz de uma nova ordem de sociedade humana e, em uma certa medida, de
uma nova ordem de crença e de prática humana religiosa.
A
influência da cultura grega havia já penetrado as terras do
Mediterrâneo Oriental, quando Alexandre expandiu a civilização helênica
no mundo do Oriente próximo. Os gregos saíam-se muito bem com a sua
religião e a sua política, enquanto estiveram organizados em pequenas
cidades-Estado, mas, quando o rei macedônio ousou expandir a Grécia,
como um império, que se estendia do Adriático ao rio Indus, os
problemas começaram. A arte e a filosofia da Grécia estavam
perfeitamente à altura da expansão imperial, mas não era bem assim com a
administração política grega, nem com a religião. Depois que as
cidades-Estado da Grécia conseguiram expandir-se como império, os seus
deuses paroquiais pareciam um pouco esquisitos. Os gregos realmente
estavam procurando um Deus único, um Deus maior e melhor, quando a
versão cristianizada da antiga religião judaica chegou a eles.
O
império helenista, enquanto tal, não podia durar. A sua influência
cultural continuou, mas só durou até assegurar para si o gênio político
romano do Ocidente, para a administração do império, e depois que
obteve do Oriente uma religião cujo Deus único possuía a dignidade
imperial.
No primeiro
século depois de Cristo, a cultura helênica havia já atingido os seus
níveis mais elevados; o seu retrocesso havia começado; o aprendizado
avançava, mas a genialidade declinava. Foi nessa mesma época que as
idéias e os ideais de Jesus, parcialmente incorporados ao cristianismo,
concorreram para salvar a cultura e o conhecimento gregos.
Alexandre
havia atacado o Oriente com a dádiva cultural da civilização da
Grécia; Paulo assaltou o Ocidente com a versão cristã do evangelho de
Jesus. E, em todos os lugares em que a cultura grega prevaleceu, em
todo o Ocidente, também o cristianismo helenizado criou raiz. A
versão oriental da mensagem de Jesus, não obstante haver permanecido
mais fiel aos ensinamentos dele, continuou seguindo a atitude de Abner
de não fazer comprometimentos sob forma de concessões. E nunca
progrediu como o fez a versão helenizada permanecendo enfim perdida no
movimento islâmico.
2. A INFLUÊNCIA ROMANA
Os
romanos incorporaram a cultura grega na totalidade, colocando governos
representativos em lugar de governos por áreas. E em breve essa
mudança favoreceu o cristianismo, pois Roma trouxe a todo o mundo
ocidental uma nova tolerância para línguas, povos e mesmo religiões
estrangeiras.
Grande parte da perseguição inicial aos cristãos, em Roma, deveu-se apenas ao uso infeliz que faziam do termo “reino”
nas suas pregações. Os romanos eram tolerantes com toda e qualquer
religião, mas ressentiam-se muito de qualquer coisa que tivesse o sabor
de rivalidade política. E, assim, quando essas perseguições iniciais,
devidas tão somente a mal-entendidos, tiveram fim, o campo para a
propagação religiosa encontrava-se bem aberto. Os romanos estavam
interessados na administração política; eles não se importavam muito com
a arte nem com a religião, eram tolerantes com ambas de um modo
extraordinário.
A lei
oriental era severa e arbitrária; a lei grega era fluida e artística; a
lei romana era dignificada e inspiradora de respeito. A educação
romana induzia uma lealdade inédita e impassível. Os romanos do período
inicial eram indivíduos politicamente devotados e consagrados de um
modo sublime. Eram honestos, zelosos e dedicados aos seus ideais, mas
não possuíam uma religião digna de ser chamada como tal. Não é de se
admirar que os instrutores gregos tivessem sido capazes de persuadi-los
a aceitar o cristianismo de Paulo.
E
esses romanos eram um grande povo. Eles puderam governar o Ocidente
porque se governavam bem a si próprios. Uma honestidade sem par, uma tal
devoção e um autocontrole tão decidido, formavam o solo ideal para
receber e para fazer crescer a cristandade.
Foi
fácil para esses greco-romanos tornarem-se tão espiritualmente
devotados a uma igreja institucionalizada, quanto o eram politicamente
ao Estado. Os romanos combateram a igreja apenas quando temeram que ela
estivesse competindo com o Estado. Roma, tendo uma filosofia nacional
tímida e pouca cultura nativa, tomou a cultura grega como sua própria e
fez de Cristo, com valentia, a sua própria filosofia moral. O
cristianismo converteu-se na cultura moral de Roma, mas dificilmente
tornou-se a sua religião, no sentido de ser, para aqueles que abraçaram
a nova religião, uma experiência individual de crescimento espiritual,
a religião de um modo pleno. É verdade, de fato, que muitos indivíduos
a penetraram com mais profundidade, saindo da superfície de toda essa
religião-estatal, e encontraram alimento para as suas almas nos valores
reais dos significados, mascarados detrás das verdades latentes do
cristianismo helenizado e paganizado.
Os estóicos e o seu apelo inflexível à “natureza e à consciência”
haviam preparado bem toda a Roma para receber Cristo, pelo menos em um
sentido intelectual. O romano era, por natureza e por educação, um
legislador; ele venerava até mesmo as leis da natureza. E agora, no
cristianismo, ele divisava as leis de Deus nas leis da natureza. Um povo
que pôde produzir Cícero e Virgílio estava amadurecido para o
cristianismo helenizado de Paulo.
E,
pois, esses gregos romanizados forçaram tanto os judeus quanto os
cristãos a filosofarem sobre a própria religião, a coordenarem as
idéias dessa religião, a sistematizarem os seus ideais e a adaptarem as
práticas religiosas às correntes predominantes de vida. E tudo isso
foi enormemente ajudado pela tradução das escrituras hebraicas para o
grego e pela redação do Novo Testamento, na língua grega.
Contrariamente
aos judeus e a muitos outros povos, os gregos vinham, há muito tempo,
crendo provisoriamente na imortalidade, em alguma espécie de
sobrevivência após a morte e, já que esse era o núcleo mesmo do
ensinamento de Jesus, era certo que o cristianismo significasse um
forte apelo para eles.
Uma
sucessão de vitórias da cultura grega e da política romana havia
consolidado as terras do Mediterrâneo como um império, com uma língua e
uma cultura, e preparou o mundo ocidental para um só Deus. O judaísmo
contribuiu com esse Deus, mas o judaísmo não era aceitável como uma
religião para esses gregos romanizados. Filo ajudou alguns a mitigarem
as suas objeções, mas o cristianismo revelou a eles um conceito melhor
de um Deus único e, prontamente, eles o abraçaram.
3. SOB O IMPÉRIO ROMANO
Após
a consolidação do governo político romano, e depois da disseminação do
cristianismo, os cristãos se viram com um Deus, um grande conceito
religioso, mas sem um império. Os greco-romanos se viram com um grande
império, mas sem um Deus para servir de conceito religioso adequado à
adoração do império e à sua unificação espiritual. Os cristãos aceitaram
o império; o império adotou o cristianismo. Os romanos forneceram uma
unidade de governo político; os gregos, uma unidade de cultura e de
instrução; o cristianismo, uma unidade de prática e de pensamento
religioso.
Roma suplantou
a tradição do nacionalismo por meio do universalismo imperial e, pela
primeira vez na história, tornou possível que raças e nações
diferentes, pelo menos nominalmente, aceitassem uma religião única.
O
cristianismo ganhou a preferência em Roma, em uma época em que havia
uma grande luta entre os ensinamentos enérgicos dos estóicos e as
promessas de salvação dos cultos dos mistérios. O cristianismo trouxe o
conforto repousante e o poder libertador para um povo espiritualmente
sedento, cuja língua não possuía nenhuma palavra para “ausência de egoísmo”. O
que deu maior poder à cristandade foi o modo pelo qual os seus crentes
viveram vidas de serviço e, mesmo, o modo pelo qual morreram pela
própria fé, durante os tempos iniciais de perseguições drásticas.
O
ensinamento a respeito do amor de Cristo pelas crianças logo colocou
um fim à prática disseminada de expor as crianças à morte, quando não
eram desejadas, particularmente as meninas.
O
plano inicial do culto cristão foi tomado, em sua quase totalidade, ao
das sinagogas judaicas, e modificado pelo ritual mitraico;
posteriormente, muito do fausto pagão foi acrescentado a ele. A espinha
dorsal da igreja cristã inicial consistia de prosélitos gregos do
judaísmo, que se cristianizaram.
O
segundo século depois de Cristo foi o melhor período, em toda a
história do mundo, para uma boa religião fazer progressos no mundo
ocidental. Durante o primeiro século, a cristandade havia preparado-se,
por meio de lutas e de concessões, para criar raízes e espalhar-se
rapidamente. A cristandade adotou o imperador; mais tarde, o imperador
adotou o cristianismo. Essa foi uma grande época para uma nova religião
ser disseminada. Existia liberdade religiosa; as viagens se haviam
generalizado e inexistiam entraves para o livre pensamento.
O
ímpeto espiritual de aceitar nominalmente o cristianismo helenizado
chegou a Roma tarde demais para impedir o declínio moral já bem
avançado, ou para compensar a deterioração racial já bem estabelecida e
crescente. Essa nova religião era uma necessidade cultural para a Roma
imperial, e é uma grande infelicidade que não se haja tornado um meio
de salvação espiritual em um sentido mais amplo.
Mesmo
uma boa religião não podia salvar um grande império dos resultados
óbvios da falta de participação do indivíduo nos assuntos do governo,
do excesso de paternalismo, do exagero e da grosseria dos abusos na
coleta dos impostos, do comércio desequilibrado com o Levante, que
acabou com o ouro, da loucura dos prazeres, do clichê da padronização
romana, da degradação da mulher, da escravidão e da decadência racial,
das epidemias físicas, e de uma igreja estatal que se tornou
institucionalizada quase até o ponto da esterilidade espiritual.
Em
Alexandria, contudo, as condições não eram assim tão desfavoráves. As
primeiras escolas continuavam mantendo muitos dos ensinamentos de Jesus
sem comprometimentos e concessões. Pantaenos ensinou a Clemente, e
passou a colaborar com Natanael, proclamando Cristo na Índia. Embora
alguns dos ideais de Jesus hajam sido sacrificados na edificação do
cristianismo, deveria aqui, com toda a justiça, ficar registrado que, ao
final do segundo século, praticamente todas as grandes mentes do mundo
greco-romano, passaram a ser cristãs. O triunfo estava próximo de ser
completo.
E esse império
romano perdurou tempo suficiente para assegurar a sobrevivência do
cristianismo, mesmo depois do império entrar em colapso. Mas nós temos
conjecturado, freqüentemente, sobre o que teria acontecido a Roma e ao
mundo, caso tivesse sido aceito o evangelho do Reino em lugar do
cristianismo grego. 4. A IDADE DAS TREVAS NA EUROPA
A
igreja, estando subordinada à sociedade e aliada à política, ficava
condenada a compartilhar do declínio intelectual e espiritual na chamada
“idade das trevas”
européia. Nessa época, a religião tornou-se mais e mais monástica,
ascética e regulamentada. Num sentido espiritual, o cristianismo estava
hibernando. Durante esse período, existiu, junto com essa religião
adormecida e secularizada, uma corrente contínua de misticismo, uma
experiência espiritual fantástica que beirou à irrealidade e que,
filosoficamente, foi semelhante ao panteísmo.
Nesses
séculos de trevas e de desespero, de novo a religião passou a ser algo
de segunda mão. O indivíduo se encontrava quase perdido diante da
autoridade super-ofuscante da tradição e do ditatorialismo da igreja.
Uma nova ameaça espiritual surgiu na criação de uma galáxia de “santos”,
os quais, se presumia, exerciam especial influência nas cortes
divinas, e que, por isso, se se apelasse eficazmente para eles, seriam
capazes de interceder pelo homem perante os Deuses.
Mas
a cristandade estava tão suficientemente socializada e paganizada que,
conquanto fosse impotente para frustrar a vinda da idade das trevas,
encontrava-se mais bem preparada para sobreviver a esse período
prolongado de trevas morais e de estagnação espiritual. E o
cristianismo perdurou durante a longa noite da civilização ocidental e
funcionou ainda como uma influência moral no mundo quando do alvorecer
da renascença. A reabilitação do cristianismo, depois de passar pela
idade das trevas, resultou na vinda à existência de numerosas seitas de
ensinamentos cristãos, as crenças adequando-se aos tipos especiais – o
intelectual, o emocional e o espiritual – de personalidades humanas. E
muitos desses grupos especiais de cristãos, ou de famílias religiosas,
ainda persistiam à época em que se fazia a apresentação deste
documento.
O
cristianismo traz em si a história de ter-se originado numa
transformação não intencional, da religião de Jesus, em uma religião
sobre Jesus. E ainda apresenta a história de haver experimentado a
helenização, a paganização, a secularização, a institucionalização, a
deterioração intelectual, a decadência espiritual, a hibernação moral, a
ameaça de extinção, o rejuvenescimento posterior, a fragmentação e,
mais recentemente, uma relativa reabilitação. Essa genealogia indica a
vitalidade inerente e a posse de vastos recursos de recuperação. E esse
mesmo cristianismo está agora presente no mundo civilizado de povos do
mundo ocidental e tem à frente uma luta pela existência que é ainda
menos auspiciosa do que aquelas crises acidentadas que caracterizaram as
suas batalhas passadas para alcançar o predomínio.
A
religião confronta-se agora com o desafio de um novo tempo de mentes
científicas e de tendências materialistas. Nessa luta gigantesca entre o
secular e o espiritual, a religião de Jesus finalmente irá triunfar. 5. OS PROBLEMAS MODERNOS
O
século vinte trouxe ao cristianismo, e a todas as outras religiões,
novos problemas a serem resolvidos. Quanto mais alto ascende uma
civilização, mais premente torna-se o dever de “primeiro buscar as realidades do céu”em todos os esforços do homem para estabilizar a sociedade e facilitar a solução dos seus problemas materiais. A
verdade, muitas vezes, torna-se confusa e até enganosa, quando é
desmembrada, fracionada, isolada e demasiadamente analisada. A verdade
viva ensina, ao buscador da verdade, corretamente, apenas quando ela é
abraçada em plenitude e como uma realidade espiritual viva, não como um
fato dentro de uma ciência material, nem como uma inspiração de uma
arte intermediária.
A
religião é a revelação ao homem do seu destino eterno e divino. A
religião é uma experiência puramente pessoal e espiritual e deve ser,
sempre, diferenciada de outras formas elevadas de pensamento, tais
como:
1. A atitude lógica do homem para com as coisas da realidade material. 2. A apreciação estética que o homem tem da beleza, em contraste com a fealdade. 3. O reconhecimento ético que o homem tem das obrigações sociais e do dever político. 4. Mesmo o senso de moralidade humana, em si e por si próprio, não é religioso.
A
religião está destinada a encontrar aqueles valores no universo que
exigem fé, confiança e certeza; a religião culmina na adoração. A
religião descobre, para a alma, os valores supremos que estão em
contraposição aos valores relativos descobertos pela mente. Um tal
discernimento interior supra-humano só pode ser alcançado por meio da
experiência religiosa verdadeira.
Não
se pode sustentar um sistema social duradouro, sem uma moralidade
baseada em realidades espirituais, assim como não se poderia sustentar o
sistema solar sem a gravidade. Não
tenteis satisfazer a curiosidade, nem gratificar todos os desejos
latentes de aventura que surgem na alma, em uma curta vida na carne.
Sede pacientes! Não vos deixeis ceder à tentação de lançar-vos em um
mergulho desregrado em aventuras baratas e sórdidas. Domai as vossas
energias e refreai as vossas paixões; sede calmos enquanto aguardais o
desdobrar majestático de uma carreira interminável de aventuras
progressivas e de descobertas emocionantes.
Na
confusão sobre a origem do homem, não percais de vista o seu destino
eterno. Não vos esqueçais de que Jesus amou até mesmo às crianças
pequenas, e de que, para sempre, ele deixou claro o grande valor da
personalidade humana.
Ao
observardes o mundo, lembrai-vos de que as manchas negras do mal, que
podeis ver, se destacam sobre o fundo branco do bem último. Vós não
vedes meramente manchas brancas do bem, mostrando-se miseravelmente
sobre o fundo negro do mal. Quando
há tantas verdades, e tão boas, a se fazerem públicas e proclamadas,
por que deveriam os homens insistir tanto no mal do mundo, só porque
ele parece ser um fato? As belezas dos valores espirituais da verdade
geram mais prazer e são mais enaltecedoras do que o fenômeno do mal.
Na
religião, Jesus defendeu e seguiu o método da experiência, do mesmo
modo que a ciência moderna busca a técnica pela experimentação. Nós
encontramos Deus por meio dos guiamentos do discernimento espiritual
interior, mas nós nos aproximamos desse discernimento da alma por meio
do amor pelo belo, da busca da verdade, da lealdade ao dever e da
adoração à bondade divina. Mas de todos esses valores, o amor é o guia
verdadeiro para o discernimento autêntico.
6. O MATERIALISMO
Involuntariamente,
os cientistas fizeram a humanidade precipitar em um pânico
materialista; eles deram início a uma corrida irrefletida ao banco moral
dos tempos, mas esse banco de experiência humana tem vastos recursos
espirituais; ele pode suportar as demandas que lhe estão sendo feitas.
Apenas os homens impensados entram em pânico com os ativos espirituais
da raça humana. Quando o pânico materialista-secular houver chegado ao
fim, a religião de Jesus não terá ido à bancarrota. O banco espiritual
do Reino do céu estará pagando, com fé, esperança e certeza moral, a
todos aqueles que recorrerem a ele “em Seu nome”.
Não
importa quais possam ser os conflitos aparentes entre o materialismo e
os ensinamentos de Jesus, podeis permanecer seguros de que, nas idades
que virão, os ensinamentos do Mestre triunfarão completamente. Na
realidade, a verdadeira religião não irá envolver-se em nenhuma
controvérsia com a ciência, pois não se ocupa em absoluto com as coisas
materiais. Para a religião a ciência é simplesmente indiferente, apesar
de ter uma simpatia por ela, enquanto se preocupa supremamente com o
cientista.
A busca do
conhecimento meramente, sem a interpretação da sabedoria que o
acompanha e sem o discernimento interior espiritual da experiência
religiosa, finalmente leva ao pessimismo e ao desespero humano. Uma
dose de conhecimento, se pequena, pode ser algo verdadeiramente
desconcertante.
Na época
em que estes documentos foram escritos, o pior da era materialista já
havia chegado ao fim; o dia de uma melhor compreensão já está no seu
alvorecer. As mentes mais elevadas do mundo científico não são mais
totalmente materialistas na sua filosofia, e o grosso e comum do povo
ainda inclina-se nessa direção em conseqüência de ensinamentos
anteriores. Mas essa idade de realismo físico é apenas um episódio
passageiro na vida do homem sobre a Terra. A ciência moderna deixou a
verdadeira religião – os ensinamentos de Jesus, como traduzidos nas
vidas dos seus crentes – intocados. Tudo o que a ciência fez foi
destruir as ilusões infantis das falsas interpretações da vida.
A
ciência é uma experiência quantitativa, a religião é uma experiência
qualitativa, no que concerne à vida do homem na Terra. A ciência lida
com os fenômenos; a religião, com as origens, os valores e as metas.
Designar causas como explicação de fenômenos físicos é confessar
ignorância das ultimidades e, ao fim, apenas leva o cientista
diretamente de volta à primeira grande causa – o Pai Universal do
Paraíso.
A passagem
violenta, de uma era de milagres para uma idade de máquinas, revelou-se
como sendo de todo desconcertante para o homem. A engenhosidade e a
habilidade das falsas filosofias do mecanismo desmentem as pretensões
puramente mecanicistas. A agilidade fatalista da mente de um
materialista contradiz, para sempre, as suas afirmações de que o
universo é um fenômeno energético cego e sem propósito.
O
naturalismo mecanicista de alguns homens, supostamente instruídos, e o
secularismo impensado, do homem nas ruas, estão ambos ocupados
exclusivamente com as coisas; eles estão desprovidos de todos os
valores reais, das recompensas e das satisfações de uma natureza
espiritual, assim como estão despojados de fé, esperança e certezas
eternas. Um dos grandes problemas da vida moderna é que o homem pensa
que ele é ocupado demais para encontrar tempo para a meditação
espiritual e para a devoção religiosa.
O
materialismo reduz o homem a um autômato sem alma e faz dele um mero
símbolo aritmético, incluído, sem ter poder, na fórmula matemática de
um universo pouco romântico e muito mecânico. Mas de onde provém todo
esse vasto universo de matemáticas, sem um Mestre Matemático? A ciência
pode discorrer sobre a conservação da matéria, mas a religião torna
válida a conservação das almas humanas – e preocupa-se com a
experiência delas ligada às realidades espirituais e valores eternos.
O
sociólogo materialista de hoje observa uma comunidade, faz um
relatório sobre ela e deixa o povo como ele o encontrou. Há dezenove
séculos, alguns galileus pouco instruídos observaram Jesus dando a sua
vida, como uma contribuição espiritual para a experiência interior do
homem, e então eles saíram da Galiléia e viraram todo o império romano
de cabeça para baixo.
Os
líderes religiosos, contudo, estão cometendo um grande erro ao
tentarem convocar o homem moderno para a batalha espiritual, com um
soar medieval de trombetas. A religião deve prover-se de lemas novos e
atuais. Nem a democracia, nem qualquer outra panacéia política, tomará o
lugar do progresso espiritual. As religiões falsas podem representar
uma fuga da realidade mas, com o seu evangelho, Jesus conduziu o homem
mortal à entrada de uma realidade eterna de progresso espiritual.
Dizer que a mente “surgiu” da
matéria nada explica. Se o universo fosse apenas um mecanismo e a
mente uma parte da matéria, nós nunca teríamos duas interpretações
diferentes de qualquer fenômeno observado. Os conceitos da verdade, da
beleza e da bondade não são inerentes, seja à física seja à química.
Uma máquina não pode conhecer, e muito menos conhecer a verdade, ter
fome de retidão ou valorizar a bondade.
A
ciência pode ser física, mas a mente do cientista que discerne a
verdade é de todo supramaterial. A matéria não conhece a verdade, nem
pode amar a misericórdia nem se comprazer com as verdades espirituais.
As convicções morais baseadas no esclarecimento espiritual, e com
raízes na experiência humana, são tão reais e certas quanto as deduções
matemáticas baseadas nas observações físicas, mas em um nível
diferente, mais elevado.
Se
os homens não passassem de máquinas, eles reagiriam mais ou menos
uniformemente a um universo material. Não existiria a individualidade, e
muito menos a personalidade.
A
existência do mecanismo absoluto do Paraíso, no centro do universo dos
universos, na presença da volição inqualificável da Segunda Fonte e
Centro, torna para sempre certo que as causas determinantes não sejam a
lei exclusiva do cosmo. O
materialismo existe, mas ele não é exclusivo; o mecanismo existe, mas
ele não é inqualificável nem irrestrito; o determinismo existe, mas ele
não está só.
O universo
finito da matéria tornar-se-ia finalmente uniforme e determinista, não
fosse a presença combinada da mente e do espírito. A influência da
mente cósmica injeta constantemente a própria espontaneidade nos mundos
materiais. A liberdade, ou a
iniciativa, em qualquer reino da existência, é diretamente
proporcional ao grau de influência espiritual e de controle da
mente-cósmica; e isto é, na experiência humana, o grau de realidade com
que vós fazeis a“vontade do Pai”. E assim, uma vez que vós começais a encontrar Deus, esta é a prova conclusiva de que Deus já vos encontrou.
A
busca sincera da bondade, da beleza e da verdade conduz a Deus. E cada
descoberta científica demonstra a existência tanto da liberdade,
quanto da uniformidade no universo. O descobridor estava livre para
fazer a descoberta. A coisa descoberta é real e aparentemente uniforme,
ou então não poderia ter-se tornado conhecida como uma coisa.
7. A VULNERABILIDADE DO MATERIALISMO
Quão
tolo é, para o homem de mente material, permitir que teorias
vulneráveis, como as de um universo mecanicista, privem-no dos recursos
espirituais vastos da experiência pessoal da verdadeira religião. Os
fatos nunca contradizem a fé espiritual real; as teorias sim, podem
contradizer. Melhor seria se a ciência ficasse devotada à destruição da
superstição, em vez de ficar tentando arruinar a fé religiosa – a
crença humana nas realidades espirituais e nos valores divinos.
A
ciência deveria fazer materialmente, pelo homem, o que a religião faz
por ele, espiritualmente: ampliar o horizonte da vida e tornar a sua
personalidade mais abrangente. A verdadeira ciência não pode manter uma
disputa duradoura com a religião verdadeira. O “método científico”
é meramente um padrão intelectual de avaliação, com o qual se medem as
aventuras materiais e as realizações físicas. Mas, como é material e
totalmente intelectual, ele passa a ser inteiramente inútil na avaliação
das realidades espirituais e das experiências religiosas.
A
incoerência do mecanicista moderno é tal que: se o universo fosse
meramente material e o homem apenas uma máquina, o homem seria
completamente incapaz de se reconhecer como tal e, do mesmo modo, esse
homem-máquina seria totalmente inconsciente do fato da existência de um
tal universo material. O desalento e o desespero materialista da
ciência mecanicista fracassou por não reconhecer o fato de que a mente
do cientista é residida por um espírito, e, que é, o discernimento
supramaterial, mesmo, dessa mente, que está a formular tal conceito
errôneo e auto-contraditório de um universo materialista.
Os
valores do Paraíso, de eternidade e de infinitude, de verdade, de
beleza e bondade, estão ocultos dentro dos fatos dos fenômenos dos
universos do tempo e do espaço. Mas é necessário o olho da fé, ao
mortal nascido do espírito, para detectar e discernir esses valores
espirituais. As realidades e os valores do progresso espiritual não são uma “projeção psicológica”
– um mero sonho diurno glorificado da mente material. Tais coisas são
antecipações espirituais do Ajustador residente, o espírito de Deus
vivendo na mente do homem. E que as vossas incursões, fraca e
confusamente visualizadas adentro da teoria da “relatividade”, não
perturbem os vossos conceitos da eternidade e da infinitude de Deus. E,
todas as vezes que fordes solicitados a respeito da necessidade da
vossa auto-expressão, não cometais o erro de omitir a expressão do
Ajustador, a manifestação do vosso eu melhor e mais real.
Se
esse fosse um universo apenas material, o homem material nunca seria
capaz de alcançar o conceito do caráter mecanicista de uma existência,
assim tão exclusivamente material. Esse conceito mecanicista do
universo é, em si mesmo um fenômeno não material da mente, e toda a
mente é de origem não material; não importando quão radicalmente ela
possa parecer ser condicionada materialmente e controlada
mecanicamente. O mecanismo
mental parcialmente evoluído, do homem mortal, não é superdotado de
consistência e sabedoria. A vaidade do homem freqüentemente ultrapassa a
sua razão e ilude a sua lógica.
O
próprio pessimismo do materialista mais pessimista é, em si e por si
próprio, prova suficiente de que o universo do pessimista não é
totalmente material. O otimismo e o pessimismo são, ambos, reações
conceituais em uma mente consciente dos valores, tanto quanto dos fatos.
Se o universo fosse verdadeiramente o que o materialista considera que
ele seja, o homem, como máquina humana, seria então desprovido de todo
o reconhecimento consciente daquele fato mesmo. Sem a consciência do
conceito de valor, dentro da mente nascida do espírito, o homem não
poderia reconhecer de nenhuma maneira o fato do materialismo do
universo, e os fenômenos mecanicistas da operação do universo. Uma
máquina não pode ser consciente da natureza ou do valor de uma outra
máquina.
Uma filosofia
mecanicista da vida e do universo não pode ser científica, porque a
ciência reconhece apenas as coisas materiais e os fatos, lidando apenas
com eles. A filosofia é, inevitavelmente, supracientífica. O homem é
um fato material da natureza, mas a sua vida é um fenômeno que
transcende os níveis materiais da natureza, pois ela tem os atributos
de controle da mente e as qualidades criativas do espírito. O
esforço sincero do homem para transformar-se em um mecanicista
representa o fenômeno trágico do esforço fútil daquele homem para
cometer o suicídio intelectual e moral. Mas ele não o pode fazer.
Se
o universo fosse apenas material e se o homem fosse apenas uma
máquina, não haveria a ciência para encorajar o cientista a postular
essa mecanização do universo. Máquinas não podem medir, classificar,
nem avaliar a si próprias. Uma tal obra do trabalho da ciência poderia
apenas ser executada por alguma entidade que tenha um status
supramaquinal. Se a realidade
do universo é ser apenas uma imensa máquina, então o homem deve estar
do lado de fora do universo e separado dele, pois só assim o homem pode
reconhecer tal fato e tornar-se consciente e dono de um discernimento
de uma tal avaliação.
Se
o homem é apenas uma máquina, por meio de qual técnica é que ele chega a
acreditar ou a proclamar saber que ele próprio é apenas uma máquina? A
experiência de uma avaliação autoconsciente, do próprio eu, nunca é um
atributo de uma mera máquina. Um mecanicista autoconsciente e
reconhecido é a melhor resposta possível ao mecanicismo. Se o
materialismo fosse um fato, não poderia haver nenhum mecanicista
autoconsciente. E também é verdade que antes de cometer atos imorais
alguém deve ser primeiro uma pessoa moral.
A
própria pretensão do materialismo implica uma consciência
supramaterial da mente, e que presuma afirmar tais dogmas. Um mecanismo
poderia deteriorar-se, mas nunca progredir. Máquinas não pensam,
criam, sonham, aspiram, idealizam, anseiam pela verdade, nem têm sede
de retidão. Elas não motivam as suas vidas com a paixão de servir a
outras máquinas, nem de escolher como meta própria de progresso eterno a
tarefa sublime de encontrar Deus e de esforçar-se para ser igual a
Ele. Máquinas nunca tomam posições intelectuais, emocionais, estéticas,
éticas, morais ou espirituais.
A
arte prova que o homem não é mecanístico, mas não prova que ele é
espiritualmente imortal. A arte é a morôncia do mortal, o domínio
intermediário entre o homem, o ser material, e o homem, o ser
espiritual. A poesia é um esforço para escapar-se das realidades
materiais e aproximar-se dos valores espirituais.
Numa
civilização evoluída, a arte humaniza a ciência, enquanto, por sua
vez, ela é espiritualizada pela religião verdadeira – o discernimento
dos valores espirituais e eternos. A arte representa a avaliação humana
e tempo-espacial da realidade. A religião é o abraço divino dos
valores cósmicos e denota progresso eterno na ascensão e na expansão
espiritual. A arte do tempo é perigosa apenas quando se torna cega para
os padrões espirituais dos arquétipos divinos que a eternidade reflete
como sombras da realidade do tempo. A arte verdadeira é a manipulação
eficiente das coisas materiais da vida; a religião é a transformação
enobrecedora dos fatos materiais da vida, e nunca cessa na sua
avaliação espiritual da arte. Quão
tolo é presumir que um autômato poderia conceber uma filosofia do
automatismo, e quão ridículo seria supor que pudesse presumir formar o
conceito de outros autômatos companheiros e irmãos!
Qualquer
interpretação científica do universo material torna-se sem valor, a
menos que venha do devido reconhecimento ao cientista. Nenhuma
apreciação da arte será genuína a menos que seja acompanhada do
reconhecimento do artista. Nenhuma avaliação da moral vale a pena, a
menos que inclua o moralista. Nenhum reconhecimento da filosofia será
edificante, se ignorar o filósofo, e a religião não pode existir sem a
experiência real do religioso que, nessa e por meio dessa mesma
experiência, está buscando encontrar Deus e conhecê-lo. Do mesmo modo, o
universo dos universos fica sem significado se separado do EU SOU, o Deus infinito que o fez e que continuamente o administra.
Os
mecanicistas – humanistas – tendem a se alienar, junto com as
correntes materiais. Os idealistas e os espiritualistas ousam usar os
seus remos com inteligência e vigor para, aparentemente, modificar o
curso puramente material das correntes da energia. A
ciência vive por meio das matemáticas da mente; a música expressa o
bater do tempo das emoções. A religião é o ritmo espiritual da alma, em
harmonia tempo-espacial com as medidas melódicas mais elevadas e
eternas da Infinitude. A experiência religiosa é algo na vida humana
que é verdadeiramente supramatemático.
Para
a linguagem, um alfabeto representa o mecanismo do materialismo,
enquanto as palavras que exprimem os significados de mil pensamentos,
grandes idéias e ideais nobres – de amor e ódio, de covardia e coragem
–, representam as atuações da mente, dentro do escopo definido tanto
pela lei material, quanto pela espiritual, dirigido pela afirmação da
vontade da personalidade e limitado pelo dom inerente à situação.
O
universo não é como as leis, mecanismos e constantes de uniformidades
que o cientista descobre e que acaba por considerar como sendo ciência.
O universo é mais como um cientista curioso, pensador, que escolhe,
que é criativo e que combina e discrimina e que, assim, observa os
fenômenos do universo e classifica os fatos matemáticos inerentes às
fases mecanicistas do lado material da criação. O universo não é,
também, como a arte do artista; mas é mais como o artista que pesquisa,
sonha, aspira e avança e que busca transcender o mundo das coisas
materiais, em um esforço para alcançar uma meta espiritual.
O
cientista, não a ciência, percebe a realidade de um universo de
energia e de matéria, que evolui e que avança. O artista, não a arte,
demonstra a existência do mundo transitório moroncial, que se interpõe
entre a existência material e a liberdade espiritual. O religioso, não a
religião, comprova a existência das realidades do espírito e os
valores divinos que devem ser encontrados ao longo do progresso para a
eternidade. 8. O TOTALITARISMO SECULAR
Mesmo
depois de estarem, o materialismo e o mecanicismo, mais ou menos
superados, a influência devastadora do secularismo, do século vinte,
contudo, ainda estará frustrando a experiência espiritual de milhões de
almas desprecavidas.
O
secularismo moderno tem sido fomentado por duas influências mundiais. O
pai do secularismo foi a estreiteza e o afastamento de Deus, da
chamada ciência do século dezenove e do século vinte – a ciência
ateísta. A mãe do secularismo moderno foi a igreja cristã medieval
totalitarista. O secularismo teve o seu início como um protesto que
surgiu contra o domínio quase completo da igreja cristã
institucionalizada, sobre a civilização ocidental.
Na
época desta revelação, o clima intelectual e filosófico predominante,
tanto na vida européia como na vida americana, é decididamente secular –
humanista. Durante trezentos anos, o pensamento ocidental vem se
mostrando progressivamente mais secularizado e leigo. A religião
tornou-se uma influência cada vez mais apenas só de nome, um exercício
muito mais de ritual. A maioria daqueles que se professam cristãos, na
civilização ocidental, na verdade são inconscientemente leigos ou
secularizados.
Foi
necessária uma grande força, uma influência poderosa, para libertar o
pensamento e o viver, dos povos ocidentais, da garra paralisadora de uma
dominação totalitária eclesiástica. O secularismo rompeu com os
grilhões do controle da igreja e, agora, por sua vez, ele ameaça
estabelecer um tipo novo e sem Deus de domínio sobre os corações e
mentes do homem moderno. Um estado político tirânico e ditatorial é a
herança direta do materialismo científico e do secularismo filosófico.
Assim que o secularismo liberta o homem da dominação da igreja
institucionalizada, ele vende o homem para a servidão escrava do estado
totalitarista. O secularismo liberta o homem da escravidão eclesiástica
apenas para traí-lo, entregando-o à tirania da escravidão política e
econômica.
O materialismo
nega a Deus, o secularismo simplesmente O ignora; ao menos essa foi a
atitude inicial. Mais recentemente, o secularismo comprometeu-se numa
atitude mais militante, assumindo tomar o lugar da religião de cuja
servidão totalitarista ele fugiu certa vez. O secularismo do século
vinte tende a afirmar que o homem não precisa de Deus. Mas tomai
cuidado! Essa filosofia, sem Deus, da sociedade humana levará apenas à
intranqüilidade, à animosidade, à infelicidade, à guerra e a um
desastre mundial.
O
secularismo nunca poderá trazer a paz à humanidade. Nada pode tomar o
lugar de Deus na sociedade humana. Mas prestai bastante atenção! Não
vos apresseis em abandonar os benefícios da revolta secular contra o
totalitarismo eclesiástico. A civilização ocidental desfruta hoje de
muitas liberdades e satisfações, resultadas na revolta secular. O
grande erro do secularismo foi que, ao revoltar-se contra o controle,
quase total, da autoridade religiosa sobre a vida, e depois de alcançar
a libertação dessa tirania eclesiástica, os secularistas passaram a
instituir uma revolta contra o próprio Deus, algumas vezes tacitamente,
abertamente em outras. À
revolta secularista vós deveis a criatividade espantosa do
industrialismo norte-americano e o progresso material sem precedentes
da civilização ocidental. E, porque a revolta secularista foi muito
longe e perdeu de vista a verdadeira religião e a Deus, seguiram-se
também uma colheita inesperada de guerras mundiais e uma falta de
estabilidade internacional.
Não
é necessário que se sacrifique a fé em Deus para que se possa
desfrutar das bênçãos da revolta secularista moderna: a tolerância, o
serviço social, o governo democrático e as liberdades civis. Não foi
necessário aos secularistas antagonizar a verdadeira religião para
promover a ciência e para avançar com a educação.
Contudo,
o secularismo não é o único progenitor de todos esses ganhos recentes
na ampliação da vida. Por detrás dos ganhos do século vinte não estão
apenas a ciência e o secularismo, mas também os trabalhos espirituais,
não reconhecidos nem considerados, da vida e dos ensinamentos de Jesus
de Nazaré.
Sem Deus, sem
religião, o secularismo científico não pode nunca coordenar as suas
forças, harmonizar os seus interesses, as suas raças e os seus
nacionalismos, divergentes e competitivos. Essa sociedade humana
secularista, não obstante os seus feitos materialistas sem paralelos,
está desintegrando-se vagarosamente. A força coesiva principal a
resistir a essa desintegração, de antagonismos, é o nacionalismo. E o
nacionalismo é a maior barreira para a paz mundial.
A
fraqueza inerente ao secularismo é que ele se descarta da ética e da
religião, a troco de política e de poder. Vós simplesmente não podeis
estabelecer a irmandade dos homens se ignorardes ou se negardes a
paternidade de Deus.
O
otimismo secular social e político é uma ilusão. Sem Deus, nem a
independência, nem a liberdade, nem a propriedade, nem a riqueza
conduzirão à paz. A
secularização completa da ciência, da educação, da indústria e da
sociedade pode conduzir apenas ao desastre. No primeiro terço do século
vinte, os urantianos mataram mais seres humanos do que os que foram
mortos durante toda a dispensação cristã até aquela época. E isso é
apenas o começo da pavorosa ceifa do materialismo e do secularismo;
destruições ainda mais terríveis ainda estão para vir. 9. O PROBLEMA DO CRISTIANISMO
Não
negligencieis o valor da vossa herança espiritual, o rio da verdade
correndo pelos séculos, mesmo pelos tempos estéreis de uma idade
materialista e secular. Em todos os vossos esforços condignos para
livrar-vos das crenças supersticiosas das idades passadas,
certificai-vos de que conservais a verdade eterna. Mas sede pacientes!
Quando a revolta atual, da superstição, estiver terminada, as verdades
do evangelho de Jesus persistirão gloriosamente, iluminando um caminho
novo e melhor.
Mas o
cristianismo paganizado e socializado permanece na necessidade de um
novo contato com os ensinamentos reais de Jesus, não comprometidos por
concessões; pois ele definha na falta de uma nova visão da vida do
Mestre na Terra. Uma revelação nova e mais plena da religião de Jesus
está destinada a vencer num império de secularismo materialista e a
derrotar uma corrente mundial de naturalismo mecanicista. Urântia está
agora agitada e à beira de uma das suas épocas mais assombrosas e
encantadoras de reajustamento social, de estimulação moral e de
iluminação espiritual.
Os
ensinamentos de Jesus, ainda que grandemente modificados, sobreviveram
aos cultos dos mistérios da sua época natal, à ignorância e à
superstição da idade medieval das trevas, e estão, ainda agora,
triunfando lentamente sobre o materialismo, o mecanicismo e o
secularismo do século vinte. E esses tempos de grandes provações, e de
ameaças de derrotas, são sempre tempos de grandes revelações.
A
religião necessita de novos líderes, de homens e mulheres espirituais,
que ousarão depender apenas de Jesus e dos seus ensinamentos
incomparáveis. Se o cristianismo persistir em negligenciar a sua missão
espiritual e continuar a ocupar-se de problemas sociais e materiais, o
renascimento espiritual deve esperar a vinda desses novos instrutores
da religião de Jesus, que irão devotar-se exclusivamente à regeneração
espiritual dos homens. E, então, essas almas nascidas do espírito irão
rapidamente preencher os quesitos de liderança e de inspiração, para a
reorganização social, moral, econômica e política do mundo.
A
idade moderna recusar-se-á a aceitar uma religião que seja
inconsistente com os fatos e fora de harmonia com as suas concepções
mais elevadas da verdade, da beleza e da bondade. É chegada a hora de
uma redescoberta dos fundamentos verdadeiros e originais do
cristianismo atual, distorcido por concessões – a vida verdadeira e os
ensinamentos de Jesus.
O
homem primitivo viveu uma vida de servidão supersticiosa ao medo
religioso. O homem moderno, civilizado, tem pavor do pensamento de cair
no domínio de fortes convicções religiosas. O homem pensante tem
sempre temido estar aprisionado a uma religião. Quando uma religião
forte e atuante ameaça dominá-lo, ele invariavelmente tenta
racionalizá-la, tradicionalizá-la e institucionalizá-la, esperando com
isso ter o controle dela. Com esse procedimento, até mesmo uma religião
revelada torna-se feita pelo homem e dominada pelo homem. As mulheres e
os homens modernos, de inteligência, fogem da religião de Jesus, por
causa do medo que têm do que ela fará a eles – e com eles. E todos
esses medos são bem fundados. A religião de Jesus de fato domina e
transforma os seus crentes, exigindo que os homens dediquem as suas
vidas a buscar um conhecimento do que é a vontade do Pai no céu,
exigindo que as energias da vida sejam consagradas ao serviço altruísta
da irmandade dos homens.
Os
homens e as mulheres egoístas simplesmente não pagarão esse preço, nem
mesmo pelo maior tesouro espiritual jamais oferecido ao homem mortal.
Só quando o homem se houver tornado desiludido o bastante, por
desapontamentos tristes que acompanham as buscas tolas e decepcionantes
do egoísmo, e depois da descoberta da esterilidade da religião
formalizada, é que ele dispor-se-á a voltar-se, de todo o coração, para o
evangelho do Reino, a religião de Jesus de Nazaré.
O
mundo necessita mais de uma religião de primeira mão. Mesmo o
cristianismo – a melhor das religiões do século vinte – não é apenas
uma religião sobre Jesus, mas é amplamente uma religião na qual os
homens experimentam coisas por intermédio de outras pessoas. Eles tomam
a sua religião totalmente como é passada pelos instrutores religiosos
consagrados. Que despertar experimentaria o mundo, se pudesse tão
somente ver Jesus como ele realmente viveu na Terra, e conhecer, de
primeira mão, os ensinamentos dados pela sua própria vida! As palavras
que descrevem as coisas belas não conseguem emocionar como as próprias
coisas, nem podem as palavras de um credo inspirar as almas dos homens,
como o pode a experiência de conhecer a presença de Deus. Mas a fé
atenta sempre manterá a porta da esperança da alma do homem aberta para
a entrada das realidades espirituais eternas dos valores divinos dos
mundos além deste.
A
cristandade tem ousado rebaixar o nível dos seus ideais diante do
desafio da usura humana, da loucura das guerras e do desejo ardente de
poder; mas a religião de Jesus permanece sendo a convocação espiritual
imaculada e transcendente, apelando para o que há de melhor no homem,
para que ele se eleve acima de todos esses legados de evolução animal
e, por meio da graça, para que alcance as alturas morais do verdadeiro
destino humano.
O
cristianismo está ameaçado de morte lenta, pelo formalismo, pela
super-organização, pelo intelectualismo e por outras tendências não
espirituais. A moderna igreja cristã não é aquela irmandade de crentes
dinâmicos à qual Jesus encarregou continuadamente com a missão de
efetuar a transformação espiritual das gerações sucessivas da
humanidade.
O chamado
cristianismo tornou-se um movimento social e cultural, tanto quanto uma
crença e uma prática religiosa. As correntes do cristianismo moderno
drenam muitos antigos pântanos pagãos e muitos marasmos bárbaros;
muitas bacias culturais antigas vertem as suas águas nessa corrente
cultural de hoje, bem como os mananciais dos altos platôs galileus os
quais se supõe que sejam a sua fonte exclusiva. 10. O FUTURO
O
cristianismo de fato prestou um grande serviço a este mundo, mas agora
é Jesus que se faz mais necessário. O mundo necessita ver Jesus
vivendo novamente na Terra, na experiência de mortais nascidos do
espírito e que efetivamente revelem o Mestre a todos os homens. É
inútil falar de um renascimento da primitiva cristandade; vós deveis
seguir para frente, partindo de onde estais. A cultura moderna deve
tornar-se espiritualmente batizada com uma nova revelação da vida de
Jesus e iluminada por um novo entendimento do seu evangelho de salvação
eterna. E quando Jesus tornar-se elevado assim, ele atrairá todos os
homens para si. Os discípulos de Jesus, mais do que conquistadores,
deveriam ser fontes transbordantes de inspiração e de vida elevada para
todos os homens. A religião é apenas um humanismo elevado, até que
seja tornado divino pela descoberta da realidade da presença de Deus,
na experiência pessoal.
A
beleza e a sublimidade, a humanidade e a divindade, a simplicidade, a
singularidade e a unicidade da vida de Jesus na Terra apresentam um
quadro tão impressionante e tão atraente de salvação do homem e de
revelação de Deus, que os teólogos e os filósofos de todos os tempos
deveriam ficar efetivamente impedidos de ousar formar credos ou de
criar sistemas teológicos de servidão espiritual a partir dessa
auto-outorga transcendental de Deus, na forma do homem. Em Jesus, o
universo produziu um homem mortal em quem o espírito do amor triunfou
sobre as limitações materiais do tempo e suplantou o fato da origem
física.
Tende sempre em
mente que Deus e os homens necessitam uns dos outros. Eles são
mutuamente necessários para a realização plena e final da experiência
eterna da personalidade, no destino divino da finalidade do universo. “O Reino de Deus está dentro de vós” foi provavelmente a maior afirmação que Jesus fez, junto com a declaração de que o seu Pai é um espírito vivo cheio de amor.
Ao
conquistar almas para o Mestre, não é a primeira légua, a da
obrigação, do dever ou da convenção, que irá transformar o homem e o
seu mundo, mas é mais a segunda légua, a de serviço livre, de devoção e
amor à liberdade, a que representa o esforço semelhante ao de Jesus,
para alcançar o irmão no amor e para colocá-lo sob a guia espiritual,
na direção da meta divina mais elevada da existência mortal. O
cristianismo, ainda hoje, percorre, com disposição, a primeira légua;
mas a humanidade definha e tropeça nas trevas morais, porque há tão
poucos homens fazendo a segunda légua – tão poucos seguidores professos
de Jesus e que realmente vivem e amam, como ele ensinou os seus
discípulos a viver, a amar e a servir.
O
chamamento à aventura de edificar uma sociedade humana nova e
transformada por meio do renascimento espiritual da irmandade, no Reino
de Jesus, deveria comover e apaixonar a todos aqueles que crêem nele,
de um modo como os homens não se comovem desde os dias em que eles
perambulavam pela Terra como companheiros dele na carne.
Nenhum
sistema social ou regime político que nega a realidade de Deus pode
contribuir de uma forma construtiva e duradoura para o avanço da
civilização humana. A cristandade, tal como está hoje subdividida e
secularizada, representa o maior de todos os obstáculos ao avanço da
humanidade; e isso é verdade, especialmente no que concerne ao Oriente.
O
domínio eclesiástico é, agora e sempre, incompatível com aquela fé
viva, com o crescimento do espírito e com a experiência original, e de
primeira mão, dos camaradas de fé, de Jesus, na irmandade dos homens,
na associação espiritual do Reino do céu. O desejo louvável de
conservar as tradições das realizações passadas, muitas vezes, leva à
defesa de sistemas obsoletos de adoração. O desejo bem-intencionado, de
realimentar sistemas antigos de pensamento, efetivamente, impede a
promoção eficaz de meios e métodos novos e adequados que satisfaçam os
anseios espirituais das mentes que se expandem e que avançam, dos
homens modernos. Do mesmo modo, as igrejas cristãs do século vinte
permanecem como grandes obstáculos, ainda que totalmente inconscientes,
ao avanço imediato do evangelho verdadeiro – os ensinamentos de Jesus
de Nazaré.
Muitas
pessoas sinceras, que de bom grado ofereceriam a sua lealdade ao Cristo
do evangelho, acham bastante difícil sustentar, com entusiasmo, uma
igreja que demonstra tão pouco do espírito da vida e dos ensinamentos
dele, a qual, lhes foi ensinado erroneamente, que ele teria fundado.
Jesus não fundou a chamada igreja cristã, mas, de todos os modos
coerentes com a sua natureza, ele fomentou-a como sendo o melhor
expoente existente do trabalho da sua vida na Terra.
Se
a igreja cristã apenas ousasse esposar o programa do Mestre, milhares
de jovens, aparentemente indiferentes, apressar-se-iam a alistar-se em
um tal empreendimento espiritual, e eles não hesitariam em ir até o fim
nessa grande aventura. A cristandade se defronta seriamente com a condenação que está incorporada em um dos seus próprios slogans: “Uma casa dividida, contra si própria, não poderá sobreviver”.
O mundo não-cristão dificilmente render-se-á a uma cristandade
dividida em seitas. O Jesus vivo é a única esperança de uma unificação
possível da cristandade. A verdadeira igreja – a fraternidade de Jesus –
é invisível, é espiritual e é caracterizada pela unidade, não
necessariamente pela uniformidade. A uniformidade seria uma marca, para o
mundo físico, de natureza mecanicista. A unidade espiritual é fruto da
união de fé com o Jesus vivo. A igreja visível deveria recusar-se a
continuar impedindo o progresso da irmandade invisível e espiritual do
Reino de Deus. E essa fraternidade está destinada a tornar-se um
organismo vivo, ao contrário de uma organização social
institucionalizada. Ela pode, muito bem, servir-se dessas organizações
sociais, mas não deve ser suplantada por elas.
Apesar
de tudo, mesmo o cristianismo do século vinte não deve ser
menosprezado. Ele é o produto do gênio moral dos homens sabedores de
Deus, de muitas raças, durante muitos séculos, e tem sido
verdadeiramente um dos grandes poderes para o bem na Terra e, portanto,
nenhum homem deveria considerá-lo superficialmente e sem o devido
apreço, não obstante os seus defeitos inerentes e adquiridos. O
cristianismo ainda consegue movimentar as mentes dos homens de
reflexão, por meio de emoções morais poderosas.
E
não há uma desculpa para o envolvimento da igreja no comércio e na
política; alianças ímpias como essas são traições flagrantes ao Mestre.
E os amantes genuínos da verdade tardarão em esquecer que essa
poderosa igreja institucionalizada tem, frequentemente, ousado sufocar
fés recém-nascidas e perseguir àqueles que conceberam a verdade e que,
na oportunidade, apareceram em vestimentas não-ortodoxas.
Infelizmente,
é bem verdade que essa igreja não teria sobrevivido, caso não tivesse
havido homens no mundo que preferissem o seu estilo de adoração. Muitas
almas, espiritualmente indolentes, têm a necessidade ardente de uma
religião antiga e autoritária, de tradição sagrada nos rituais. A
evolução humana e o progresso espiritual dificilmente são suficientes
para capacitar todos os homens a prescindirem de uma autoridade
religiosa. E a fraternidade invisível do Reino pode muito bem incluir
esses grupos familiares de várias classes e temperamentos sociais, caso
eles estejam dispostos apenas a tornarem-se filhos de Deus, guiados
pelo espírito. Mas, nessa fraternidade de Jesus, não há lugar para a
rivalidade sectária, para amargas rixas grupais, nem para afirmações de
superioridade moral e de infalibilidade espiritual.
Esses
vários agrupamentos de cristãos podem servir para acomodar numerosos
tipos diferentes de possíveis crentes, entre os vários povos da
civilização ocidental, mas essa divisão da cristandade representa uma
grande fraqueza, quando ela intenta levar o evangelho de Jesus aos
povos orientais. Aquelas raças ainda não compreendem que possa haver
uma religião de Jesus separadamente, e de algum modo à parte, do
cristianismo, que cada vez mais está tornando-se uma religião a
respeito de Jesus.
A
grande esperança para Urântia está na possibilidade de uma nova
revelação de Jesus, com uma apresentação nova e ampliada da sua
mensagem de salvação, que espiritualmente una, no serviço amoroso, as
numerosas famílias daqueles que atualmente são os seus professos
seguidores.
Mesmo a
educação secular poderia ajudar, nesse grande renascimento espiritual,
caso desse mais atenção ao trabalho de ensinar aos jovens como efetuar
um planejamento de vida e realizar progressos de caráter. O propósito de
toda a educação deveria ser fomentar e realizar o propósito supremo da
vida, o desenvolvimento de uma personalidade na grandeza e no
equilíbrio. Há uma grande necessidade do ensino da disciplina da moral,
em lugar de tanta autogratificação. Com essa base, e por meio do seu
incentivo espiritual a religião pode contribuir para a ampliação e o
enriquecimento da vida mortal, e mesmo para a segurança e o
engrandecimento da vida eterna.
O
cristianismo é uma religião gerada por adequações extemporâneas, e por
isso deve operar em baixa velocidade. As atuações em alta velocidade
espiritual devem esperar a nova revelação e uma aceitação mais geral da
verdadeira religião de Jesus. O cristianismo, contudo, é uma religião
poderosa, visto que os discípulos comuns de um carpinteiro crucificado
lançaram os ensinamentos que conquistaram o mundo romano, em trezentos
anos, e então triunfaram sobre os bárbaros, que arruinaram Roma. Esse
mesmo cristianismo predominou – absorvendo e engrandendo – sobre todas
as correntes da teologia hebraica e da filosofia grega. E então, quando
essa religião cristã entrou em coma, durante mais de mil anos, em
resultado de uma dose excessiva de mistérios e paganismo, ela
ressuscitou e virtualmente reconquistou todo o mundo ocidental. O
cristianismo contém o suficiente dos ensinamentos de Jesus para
imortalizar-se.
Se o
cristianismo pudesse abranger mais dos ensinamentos de Jesus, daria uma
ajuda bem maior ao homem moderno para resolver os seus problemas novos
e cada vez mais complexos. O
cristianismo sofre de uma grande limitação, porque se tornou
identificado, nas mentes de todo o mundo, com uma parte do sistema
social, da vida industrial e dos padrões morais da civilização
ocidental; e assim o cristianismo parece haver patrocinado,
involuntariamente, uma sociedade que titubeia sob a culpa de tolerar uma
ciência sem idealismo, uma política sem princípios, uma riqueza sem
trabalho, um prazer sem restrições, um conhecimento sem caráter, um
poder sem consciência e uma indústria sem moralidade.
A
esperança, para o cristianismo moderno, é a de que ele possa cessar de
apadrinhar os sistemas sociais e as políticas industriais da
civilização ocidental e, ao mesmo tempo, a de que ele humildemente se
curve diante dessa cruz que ele louva com tanta valentia, e que passe a
aprender de novo, de Jesus de Nazaré, sobre as maiores verdades que o
homem mortal pôde jamais escutar – o evangelho vivo da paternidade de
Deus e da irmandade dos homens. CLIQUE AQUI(Hierarquia e Biblioteca Cósmica)para acompanhar as partes seguintes.
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