SÉRIE: (75)A VIDA E OS ENSINAMENTOS DE JESUS - O OUTORGAMENTO DO ESPÍRITO DA VERDADE
Esta
série foi extraída do Livro de Urântia. Os 77 capítulos, mais de 700
páginas, que ocupam um terço do livro, dão dia a dia, toda a vida de
Jesus Cristo desde sua infância. Dão 16 vezes mais informações sobre a
vida e os ensinamentos de Jesus do que a Bíblia. É o relato mais
espiritual sobre Jesus até hoje escrito.
O OUTORGAMENTO DO ESPÍRITO DA VERDADE
Por
volta de uma hora, no início da tarde e no momento em que cerca de
cento e vinte crentes estavam empenhados na oração, todos se aperceberam
de uma estranha presença na sala. Ao mesmo tempo os discípulos
tornaram-se todos conscientes de uma sensação nova e profunda de alegria
espiritual, de segurança e de confiança. Essa consciência nova de
força espiritual foi imediatamente seguida por um vigoroso impulso de
sair e de proclamar publicamente a palavra do Reino de Deus e as
boas-novas de que Jesus havia ressuscitado de entre os mortos.
Pedro
levantou-se e declarou que aquilo devia ser a vinda do Espírito da
Verdade, que o Mestre lhes havia prometido; e propôs que fossem ao
templo e iniciassem a proclamação das boas-novas confiadas às mãos
deles. E todos fizeram aquilo que Pedro havia sugerido.
Esses
homens haviam sido instruídos e treinados no sentido de que a palavra
de Deus, que iriam pregar, devesse ser a paternidade de Deus e a
filiação do homem, mas, exatamente nesse momento de êxtase espiritual e
de triunfo pessoal, tudo o que esses homens conseguiam pensar, como
sendo a melhor informação, como a grande nova, foi no fato de o Mestre
haver ressuscitado. E assim eles saíram, dotados de um poder vindo do
alto, pregando as boas-novas ao povo – e mesmo a salvação por meio de
Jesus –, contudo, não intencionalmente, caíram no erro de substituir a
mensagem em si do próprio evangelho, por alguns dos fatos ligados ao
evangelho. Sem assim o querer, Pedro caiu nesse erro; os outros o
seguiram; e até mesmo Paulo, o qual criou uma religião recente baseada
numa nova versão das boas-novas.
O
evangelho do Reino de Deus é: o fato da paternidade de Deus, combinado
com a verdade resultante da filiação-irmandade dos homens. O
cristianismo, como se desenvolveu a partir desse dia, é: o fato de
Deus, enquanto Pai do Senhor Jesus Cristo, em associação com a
experiência da crença-comunhão com o Cristo ressuscitado e glorificado.
Não
é de se estranhar que esses homens, impregnados pelo espírito, se
houvessem agarrado à oportunidade de expressar os seus sentimentos de
triunfo sobre as forças que tinham tentado destruir o seu Mestre,
deixando de lado, desse modo, a influência dos ensinamentos dele. Em
momentos como esses mais fácil era lembrarem-se da sua ligação pessoal
com Jesus e enlevarem-se com a segurança de que o Mestre ainda estava
vivo, de que a sua amizade com ele não havia chegado ao fim; e de que o
espírito tinha realmente vindo sobre eles tal como ele havia
prometido.
Esses crentes
sentiram-se subitamente transladados para um outro mundo, em uma nova
existência na alegria, poder e glória. O Mestre havia dito a eles que o
Reino viria em poder; e alguns deles pensaram que estavam começando a
vislumbrar o que ele havia desejado expressar.
E
quando tudo isso é levado em consideração, não fica difícil entender o
modo como esses homens puseram-se a pregar um novo evangelho sobre
Jesus, em lugar da sua mensagem anterior da paternidade de Deus e da
irmandade entre os homens.
1. O SERMÃO DE PENTECOSTES
Os
apóstolos haviam permanecido escondidos por quarenta dias. Ocorreu que
era o dia do festival de Pentecostes, e milhares de visitantes de
todas as partes do mundo estavam em Jerusalém. Muitos vieram para essa
festa, mas a maioria havia permanecido na cidade desde a Páscoa. E,
agora, os amedrontados apóstolos saíam de uma reclusão de semanas, para
aparecer ousadamente no templo, onde começavam a pregar a nova
mensagem de um Messias ressuscitado. E todos os discípulos estavam
igualmente conscientes de que haviam recebido algum novo dom espiritual
de visão interior e de poder.
Eram
aproximadamente duas horas quando Pedro postou-se exatamente naquele
mesmo lugar em que o seu Mestre havia ensinado da última vez, nesse
templo, e que pronunciou o chamamento, cheio de paixão, que resultou na
conquista de mais de duas mil almas. O Mestre havia ido embora, mas
eles descobriram subitamente que esse relato sobre Jesus exercia um
grande poder junto ao povo. E não era de se admirar que eles estivessem
sendo levados agora, a continuar proclamando aquilo que justificava a
sua devoção anterior a Jesus e que, ao mesmo tempo, era o que forçava a
todos acreditarem nele. Seis dos apóstolos participaram desse
encontro: Pedro, André, Tiago, João, Filipe e Mateus. Eles conversaram
por mais de uma hora e meia e pronunciaram mensagens em grego, hebreu e
aramaico, bem como umas poucas palavras noutras línguas das quais
tinham algum conhecimento.
Os
líderes dos judeus estavam estupefatos diante da audácia dos
apóstolos, mas, por causa do grande número dos que acreditavam no seu
relato, temiam incomodá-los.
Lá
pelas quatro e meia, mais de dois mil novos crentes seguiram os
apóstolos até as águas de Siloé, onde Pedro, André, Tiago e João
batizaram-nos em nome do Mestre. E estava escuro quando eles acabaram
de batizar essa multidão.
Pentecostes
era a grande festa do batismo, o tempo de dar as boas-vindas aos
prosélitos convertidos de fora, os gentios que desejavam servir a Yavé.
Era, portanto, mais fácil que um grande número, tanto de judeus quanto
de gentios crentes, se submetesse ao batismo nesse dia. Ao fazer isso,
eles não estavam de nenhum modo desligando-se da fé judaica. Mesmo
algum tempo depois, esses crentes em Jesus, continuram sendo uma seita
dentro do judaísmo. Todos eles, incluindo os apóstolos, permaneciam
leais aos requisitos essenciais do sistema cerimonial judaico.
2. O SIGNIFICADO DE PENTECOSTES
Jesus
viveu na Terra e ensinou um evangelho que redimiu a humanidade da
superstição de que o homem era um filho do mal; e elevou-o à dignidade
de filho de Deus pela fé. A sua mensagem, tal como Jesus a pregou e
viveu-a nos seus dias, foi uma solução eficaz para as dificuldades do
homem, na época em que foi proposta. E agora, que ele deixou
pessoalmente o mundo, ele enviou no seu lugar o Espírito da Verdade, que
está destinado a viver no homem e, para cada nova geração, a
restabelecer a mensagem de Jesus, de um modo tal que cada grupo novo de
mortais, a surgir na face da Terra, tenha uma versão nova e atualizada
da palavra de Deus, como um esclarecimento pessoal e um guiamento
grupal, que se constituirá em uma solução efetiva para as dificuldades
espirituais variadas e sempre novas.
A
primeira missão desse espírito é, está claro, fomentar e personalizar a
verdade, pois é a compreensão da verdade que constitui a mais elevada
forma de liberdade humana.
Em
seguida, o propósito desse espírito é destruir o sentimento de
orfandade do crente. Tendo Jesus estado entre os homens, todos os
crentes iriam experienciar uma sensação de solidão, não houvesse o
Espírito da Verdade vindo para residir nos corações dos homens.
Esse
outorgamento, do espírito do Filho, preparou efetivamente todas as
mentes dos homens comuns para a dádiva posterior do espírito do Pai (o
Ajustador) a toda a humanidade. Num certo sentido, esse Espírito da
Verdade é o espírito, tanto do Pai Universal como do Filho Criador.
Não
cometais o erro de esperar ter uma consciência intelectualmente forte e
nítida do Espírito da Verdade efundido. O espírito nunca gera uma
consciência de si mesmo, mas cria uma consciência de Michael, o Filho.
Desde o princípio, Jesus ensinou que o espírito não falaria de si
mesmo. A prova, entretanto, do vosso envolvimento com o Espírito da
Verdade, não há de ser encontrada na vossa consciência desse espírito,
mas, muito mais intensamente, na vossa experiência de uma irmandade
mais elevada com Michael.
O
espírito veio também para ajudar os homens a relembrarem-se das
palavras do Mestre e compreenderem-nas; bem como para iluminá-los, na
re-interpretação da vida dele na Terra.
Em
seguida o Espírito da Verdade veio para ajudar aos que acreditam a
testemunhar sobre as realidades dos ensinamentos de Jesus e sua vida,
como ele a viveu na carne e como novamente a vive, de modo renovado e
pujante, no indivíduo que crê, em cada nova geração de filhos de Deus
plenificados pelo espírito.
Assim,
torna-se, pois, evidente que o Espírito da Verdade vem, realmente,
para conduzir todos os que crêem, a toda a verdade, ao conhecimento
expansivo da experiência da consciência espiritual viva e crescente, na
realidade da filiação ascendente e eterna a Deus.
Jesus
viveu uma vida que é uma revelação do homem submetido à vontade do
Pai, e não um exemplo que todo homem deva literalmente tentar seguir.
Essa vida na carne, junto com a sua morte na cruz e a ressurreição
subseqüente, tornou-se atualmente um novo evangelho para o resgate, que
é pago, assim, com o fim de retomar o homem, de volta, das garras do
mal – da condenação de um Deus ofendido. Entretanto, mesmo havendo a
palavra de Deus sido grandemente distorcida, permanece o fato de que
essa nova mensagem sobre Jesus traz em si muitas verdades e os
ensinamentos fundamentais das suas primeiras palavras ao Reino. E, mais
cedo ou mais tarde, essas verdades ocultas, da paternidade de Deus e
da irmandade dos homens, emergirão para transformar efetivamente a
civilização de toda a humanidade.
Mas
esses erros do intelecto não interferem, de modo algum, no grande
progresso de crescimento, em espírito, dos que crêem. Menos de um mês
depois do outorgamento do Espírito da Verdade, os apóstolos fizeram um
progresso espiritual maior do que durante os quatro anos, quase, de
convívio amoroso pessoal com o Mestre. Nem a substituição da verdade do
evangelho salvador, que é a filiação a Deus, pelo fato da ressurreição
de Jesus, tampouco, interferiu na rápida difusão dos seus ensinamentos;
ao contrário, os novos ensinamentos sobre a sua pessoa e sobre a sua
ressurreição, mesmo ofuscando a mensagem de Jesus, parece haverem também
facilitado grandemente a pregação das boas-novas.
O termo “batismo do espírito”,
que veio a ter um uso tão geral nessa época, significou meramente a
recepção consciente dessa dádiva do Espírito da Verdade e a tomada de
consciência desse novo poder espiritual, como uma ampliação de todas as
influências espirituais experienciadas até então pelas almas
conscientes de Deus.
Desde
o outorgamento do Espírito da Verdade, está o homem sujeito ao
ensinamento e ao guiamento de um dom espiritual tríplice: o espírito do
Pai, o Ajustador do Pensamento; o espírito do Filho, o Espírito da
Verdade; o espírito do Espírito, o Espírito Santo.
De
um certo modo, a humanidade está sujeita à influência dupla, de apelo
sétuplo, das influências espirituais do universo. As raças
evolucionárias primevas, de mortais, estão submetidas ao contato
progressivo com os sete espíritos ajudantes da mente do Espírito Materno
do universo local. À medida que o homem progride, escala acima, em
inteligência e em percepção espiritual, vão chegando até ele e residindo
nele as sete influências dos espíritos superiores. E esses sete
espíritos, dos mundos em avanço, são:
1. O espírito outorgado, do Pai Universal – o Ajustador do Pensamento.
2.
A presença espiritual do Filho Eterno – a gravidade espiritual do
universo dos universos; e o canal certo para a comunhão de todos os
espíritos.
3.
A presença espiritual do Espírito Infinito – o espírito-mente de toda a
criação, a fonte espiritual da semelhança intelectual de todas as
inteligências progressivas.
4.
O espírito do Pai Universal e do Filho Criador – o Espírito da
Verdade, geralmente visto como o espírito do Filho do Universo.
5.
O espírito do Espírito Infinito e do Espírito Materno do Universo – o
Espírito Santo, geralmente considerado o espírito do Espírito do
Universo.
6. O espírito-mente do Espírito Materno do Universo – os sete espíritos ajudantes da mente do universo local.
7.
O espírito do Pai, dos Filhos e dos Espíritos – o espírito, com um
nome novo, dos mortais ascendentes dos reinos, depois da fusão da sua
alma mortal, nascida do espírito, com o Ajustador do Pensamento; e após
haverem-se elevado, subseqüentemente, até a divindade e atingido a
glorificação, por meio do status que atingem, no Corpo de Finalidade do
Paraíso.
E assim o
outorgamento do Espírito da Verdade trouxe ao mundo e aos seus povos o
último dom do espírito, destinado a ajudar na busca ascendente de Deus.
3. O QUE OCORREU EM PENTECOSTES
Muitos
ensinamentos estranhos e raros estão ligados às primeiras narrativas
do Dia de Pentecostes. Os acontecimentos deste dia, em que o novo
mestre, o Espírito da Verdade, veio para residir com a humanidade,
tornaram-se confusos, em épocas posteriores, por causa das explosões
tolas de uma emoção exagerada. A missão principal dessa efusão do
espírito do Pai e do Filho é a de ensinar aos homens sobre as verdades
do amor do Pai e da misericórdia do Filho. Essas são as verdades da
divindade que o homem pode compreender muito melhor que todos os outros
traços do caráter divino. O Espírito da Verdade ocupa-se,
principalmente, da revelação da natureza do espírito do Pai e do
caráter moral do Filho. O Filho Criador, quando esteve encarnado,
revelou Deus aos homens; o Espírito da Verdade, no coração, revela o
Filho Criador aos homens. Quando o homem colhe, na sua vida “os frutos do espírito”,
ele está simplesmente comprovando as características que o Mestre
manifestou na sua própria vida terrena. Quando Jesus esteve na Terra,
ele viveu a sua vida como uma personalidade – Jesus de Nazaré. Como
espírito residente do “novo instrutor”,
desde Pentecostes, o Mestre tem sido capaz, novamente, de viver a sua
vida na experiência de todos os crentes que aprenderam e assimilaram a
verdade.
Muitas das
coisas que acontecem no decurso de uma vida humana são duras para serem
compreendidas, difíceis de serem reconciliadas com a idéia de que este
é um universo no qual prevalece a verdade e no qual a retidão triunfa.
Muito frequentemente parece que o insulto, as mentiras, a
desonestidade e a falta de retidão – o pecado – prevalecem. E a fé,
afinal, triunfa sobre o mal, o pecado e a iniquidade? Sim, triunfa. E a
vida e a morte de Jesus são a prova eterna de que a verdade da bondade
e da fé, na criatura conduzida pelo espírito, serão justificadas
sempre. Quando crucificado, chegaram a zombar de Jesus na cruz dizendo:
“Vamos ver se Deus virá para libertá-lo”.
E o dia da crucificação ficou escuro, mas, na manhã da ressurreição,
estava gloriosamente luminoso; e ainda mais brilhante e mais cheio de
júbilo esteve o Dia de Pentecostes. As religiões do desespero pessimista
buscam obter a liberação das cargas da vida, elas almejam a extinção
em um repouso e em um sonho sem fim. Essas religiões são as do medo e
pavor primitivos. A religião de Jesus é uma palavra nova de fé, que há
de ser proclamada à humanidade, em meio à sua luta. Essa nova religião
está fundada na fé, na esperança e no amor.
A
vida mortal deu os mais duros, cruéis e amargos golpes em Jesus; e
este homem recebeu todos os golpes desesperados, com fé, coragem e com a
determinação inarredável de cumprir a vontade do Pai. Jesus aceitou a
vida, em toda a sua realidade terrível, com mestria – até mesmo na
morte. Ele não usou a religião como uma liberação para a vida. A
religião de Jesus não procura escapar desta vida, com o fito de
desfrutar da felicidade de uma outra existência. A religião de Jesus
proporciona a felicidade e a paz de uma outra existência espiritual que
eleva e enobrece a vida que os homens vivem agora na carne.
Se
a religião é um ópio para o povo, assim não é a religião de Jesus. Na
cruz ele recusou-se a beber a droga mortal, e o seu espírito,
efusionado em toda a carne, é uma influência mundial poderosa que
conduz o homem à elevação, levando-o a progredir. O impulso espiritual
para o progresso é a força mais poderosa presente neste mundo; aquele
que é o verdadeiro crente no aprendizado da verdade possui a alma que
progride ativa e dinamicamente sobre a Terra.
No
Dia de Pentecostes, a religião de Jesus quebrou todas as restrições
das nações e das prisões raciais. Para sempre será verdade que “onde está o espírito do Senhor, há liberdade”.
Nesse dia, o Espírito da Verdade tornou-se a dádiva pessoal do Mestre a
cada mortal. Esse espírito foi concedido com o propósito de qualificar
os crentes mais eficazmente, para que preguem a palavra do Reino de
Deus, mas eles confundiram a experiência, de receber o espírito
efusionado, com uma parte do novo evangelho que eles estavam formulando
inconscientemente.
Não
desconsidereis o fato de que o Espírito da Verdade foi outorgado a
todos aqueles que têm uma crença sincera; essa dádiva do espírito não
veio apenas para os apóstolos. Todos os cento e vinte homens e mulheres
reunidos na sala superior receberam o novo mestre, como o receberam
todos os homens honestos de coração em todo o mundo. Esse novo mestre
foi concedido à humanidade e cada alma o recebeu na proporção do seu
amor pela verdade e da sua capacidade de apreender e compreender as
realidades espirituais. Afinal, a verdadeira religião libera-se da
custódia dos sacerdotes e de todas as castas sagradas e encontra sua
manifestação real nas almas individuais dos homens.
A
religião de Jesus desenvolve o tipo mais elevado de civilização
humana, pois cria o tipo mais elevado de personalidade espiritual e
proclama a condição sagrada da pessoa.
A
vinda do Espírito da Verdade, em Pentecostes, tornou possível uma
religião que não é nem radical nem conservadora; não é nem a velha nem a
nova, que não irá ser dominada nem pelos velhos nem pelos jovens. A
existência da vida terrena de Jesus proporciona um ponto fixo para a
ancoragem do tempo, enquanto o outorgamento do Espírito da Verdade
proporciona a expansão eterna e o crescimento interminável da religião
que ele viveu e da palavra de Deus por ele proclamada. O espírito
conduz para dentro de toda a verdade; ele é o mestre de uma religião
que se expande e cresce sempre, de progresso sem fim e de revelação do
divino. Esse novo mestre desvelará, para sempre, ao crente em busca a
verdade, tudo aquilo que esteve tão divinamente velado e contido na
pessoa e na natureza do Filho do Homem.
As manifestações ligadas ao outorgamento do “novo mestre”,
e o modo como os homens de várias raças e nações, reunidas em
Jerusalém, receberam a pregação dos apóstolos, indicam a universalidade
da religião de Jesus. O evangelho do Reino de Deus não se devia
identificar com nenhuma raça, cultura ou língua em particular. Esse Dia
de Pentecostes testemunhou um grande esforço do espírito, no sentido de
liberar a religião de Jesus dos seus elos herdados dos judeus. Mesmo
após essa demonstração da efusão do espírito sobre toda a carne, os
apóstolos, no princípio, ainda tentaram impor os quesitos do judaísmo
aos convertidos. E até mesmo Paulo teve problemas com os seus irmãos de
Jerusalém, porque ele se recusou a submeter os gentios às práticas
judaicas. Nenhuma religião revelada pode difundir-se pelo mundo inteiro
se comete o grave erro de se deixar permear por uma cultura nacional ou
de se ligar a práticas raciais, sociais ou econômicas.
O
outorgamento do Espírito da Verdade foi independente de todas as
formas, cerimônias, lugares sagrados e comportamentos especiais da
parte daqueles que receberam, em plenitude, a sua manifestação. Quando o
espírito veio sobre as pessoas reunidas no salão superior, elas
estavam simplesmente sentadas lá, tendo acabado de orar em silêncio. O
espírito foi concedido tanto no campo como na cidade. Não foi
necessário que os apóstolos se dirigissem a um local isolado, durante
anos de meditação solitária, para que recebessem o espírito. Para todo o
sempre, Pentecostes desligou a experiência espiritual, da noção de que
houvesse locais especialmente favorecidos.
Pentecostes,
com o seu dom espiritual, estava destinada a desligar a religião do
Mestre de qualquer dependência de força física; os mestres dessa nova
religião estão agora equipados com armas espirituais. Devem sair para
conquistar o mundo com o perdão infalível, com uma boa vontade
incomparável e amor abundante. Eles estão equipados para sobrepor o bem
ao mal, para vencer o ódio pelo amor, para destruir o temor com uma fé
corajosa na verdade. Jesus já havia ensinado aos seus seguidores que a
sua religião nunca era passiva; e que os seus discípulos deviam ser
sempre ativos e positivos nas suas ministrações de misericórdia e nas
suas manifestações de amor. Esses crentes já não consideravam Yavé como
o “Senhor das Hostes”. Eles agora consideravam a Deidade eterna como o “Deus, e Pai do Senhor Jesus Cristo”.
Pelo menos esse progresso eles fizeram, ainda que não tenham
apreendido, inteiramente, a verdade de que Deus é também o Pai de todos
os indivíduos.
Pentecostes
dotou o homem mortal com o poder de perdoar as agressões pessoais, de
manter-se doce em meio à injustiça mais grave, de permanecer firme em
face do perigo mais tremendo, e de desafiar os males do ódio e da ira,
por meio de atos audazes de amor e de paciência. Urântia passou, na sua
história, pela destruição de guerras grandes e arrasadoras. Todos os
participantes dessas lutas terríveis encontraram a derrota. Houve
apenas um vitorioso; houve apenas um, que saiu dessas lutas amargas com
a sua reputação mais elevada – e este foi Jesus de Nazaré e a sua
palavra divina, de sobrepujar o mal com o bem. O segredo de uma
civilização melhor está contido nos ensinamentos do Mestre, sobre a
irmandade dos homens, a boa vontade do amor e confiança mútuos.
Até
Pentecostes, a religião havia revelado apenas o homem à procura de
Deus; desde Pentecostes, permanece o homem na busca de Deus, mas brilha
sobre o mundo o espetáculo de Deus, que também busca o homem e que,
tão logo o tenha achado, envia o Seu espírito para residir dentro dele.
Antes
dos ensinamentos de Jesus, que culminaram em Pentecostes, as mulheres
tinham pouca ou nenhuma posição espiritual, segundo os pequenos dogmas
das religiões mais antigas. Depois de Pentecostes, na irmandade do
Reino, as mulheres colocaram-se perante Deus em igualdade com os
homens. Entre os cento e vinte que receberam essa visitação especial do
espírito, estavam muitas das mulheres discípulas e elas compartilharam
dessas bênçãos igualmente com os crentes masculinos. Não mais pode o
homem presumir monopolizar o ministério dos serviços religiosos. O
fariseu poderia continuar a agradecer a Deus por não “haver nascido mulher, nem leproso, nem gentio”,
mas entre os seguidores de Jesus, a mulher foi para sempre libertada
de todas as discriminações baseadas no sexo. Pentecostes pôs fim a
todas as discriminações religiosas fundadas em distinções raciais,
diferenças culturais, castas sociais, ou preconceito de sexo. Não é de
se estranhar que os crentes da nova religião clamassem aos brados: “Onde está o espírito do Senhor, lá está a liberdade”.
Tanto
a mãe quanto um irmão de Jesus estavam presentes entre os cento e
vinte crentes e, como membros desse grupo comum de discípulos eles
também receberam o espírito efundido. Eles não receberam, de tal dom do
bem, nada mais do que os seus semelhantes. Nenhuma dádiva especial foi
conferida aos membros da família terrena de Jesus. Pentecostes marcou o
fim dos sacerdócios especiais e de toda a crença em famílias sagradas.
Antes
de Pentecostes os apóstolos haviam renunciado a muitas coisas por
Jesus. Tinham sacrificado os seus lares, famílias, amigos, bens mundanos
e posição. Em Pentecostes eles entregaram-se a Deus; e o Pai e o Filho
responderam, dando-se ao homem – enviando os Seus espíritos para
residir dentro do homem. Essa experiência de perder o eu, e de
encontrar o espírito, não foi apenas a da emoção; foi um ato de
auto-rendimento inteligente e de consagração sem reservas.
Pentecostes
foi o chamado à unidade espiritual, entre os que acreditam na palavra
sagrada. Quando o espírito desceu sobre os discípulos, em Jerusalém, a
mesma coisa aconteceu na Filadélfia, Alexandria e em todos os outros
lugares onde estavam os crentes verdadeiros. Era verdade, literalmente,
que “havia uma só alma e só um coração, na multidão dos crentes”. A religião de Jesus é a mais poderosa influência unificadora que o mundo jamais conheceu.
Pentecostes
teve o propósito de minimizar a presunção dos indivíduos, grupos,
nações e raças. A tensão desse sentimento de presunção aumenta tanto
que, periodicamente, desemboca em guerras destrutivas. A humanidade pode
ser unificada apenas pelo enfoque espiritual; e o Espírito da Verdade
é, neste mundo, uma influência universal.
A
vinda do Espírito da Verdade purifica o coração humano e conduz a
pessoa que o recebe, a formular um único propósito de vida, na vontade
de Deus e para o bem-estar dos homens. O espírito material do egoísmo
foi engolfado por esse novo outorgamento de altruísmo. Pentecostes,
então e agora, significa que o Jesus da história tornou-se o Filho
divino da experiência vivente. A exultação, que esse espírito traz ao
ser efundido, e, quando é experimentado conscientemente na vida humana,
é um tônico para a saúde, um estímulo para a mente e uma energia
infalível para a alma.
A
prece não trouxe o espírito no Dia de Pentecostes; mas teve muito a
ver com a determinação da capacidade de receptividade que caracterizou
cada indivíduo crente. A prece não conduz o coração divino à
generosidade da dádiva da graça, mas, muito freqüentemente, forma
canais mais largos e mais profundos pelos quais a graça e os
outorgamentos divinos podem fluir até os corações e as almas daqueles
que assim lembram-se de manter uma comunhão ininterrupta com o seu
Criador, por meio da prece sincera e da adoração verdadeira.
4. OS PRIMÓRDIOS DA IGREJA CRISTÃ
Quando
Jesus foi subitamente aprisionado pelos seus inimigos e tão
rapidamente crucificado, entre os dois ladrões, os seus apóstolos e
discípulos ficaram inteiramente desmoralizados. O pensamento de que o
Mestre houvesse sido preso, amarrado, açoitado e crucificado, era
demais, até mesmo para os apóstolos. Eles esqueceram-se dos seus
ensinamentos e das suas advertências. Ele podia, de fato, ter sido “um profeta poderoso nos feitos e nas palavras, perante Deus e todo o povo”, mas dificilmente seria o Messias que restauraria o reino de Israel, e disso é que eles tinham esperança.
Então
veio a ressurreição, que os livra do desespero e que os leva de volta à
sua fé na divindade do Mestre. De novo e de novo eles falam com ele; e
ele os leva ao monte das Oliveiras, onde despede-se e lhes diz que
está indo de volta ao Pai. Ele lhes havia dito para permanecer em
Jerusalém, até serem dotados com o poder – até que o Espírito da
Verdade viesse. E, no Dia de Pentecostes, este novo mestre vem; e eles
saem imediatamente para pregar o seu evangelho, com um novo poder. São
os seguidores audazes e valentes de um Senhor vivo, não de um líder
morto e derrotado. O Mestre vive nos corações desses evangelistas; Deus
não é uma doutrina nas suas mentes; tornou-Se uma presença viva nas
suas almas.
“Dia
a dia eles continuaram perseverando unânimes no templo e repartindo o
pão nas suas casas. Comiam juntos com alegria e simplicidade de
coração, louvando a Deus e em favores com todo o povo. Estavam todos
preenchidos pelo espírito e falavam da palavra de Deus com ousadia. E
as multidões dos que acreditavam estavam com um único coração e uma só
alma; e nenhum deles dizia que as suas coisas pertenciam apenas a ele; e
possuíam todas as coisas dividindo-as”.
O
que aconteceu àqueles homens a quem Jesus havia ordenado que saíssem
para pregar a palavra do Reino de Deus, a paternidade de Deus e a
irmandade entre os homens? Eles têm um novo evangelho; estão ardentes
pelo fogo de uma nova experiência; estão repletos de uma energia
espiritual nova. A sua mensagem transformou-se subitamente na
proclamação do Cristo que ressuscitou: “Jesus
de Nazaré, um homem que Deus aprovou por meio de obras poderosas e
prodigiosas; a ele, que foi enviado com conhecimento prévio e com o
conselho determinado de Deus, vós o crucificastes e matastes. As coisas
que Deus havia prenunciado pela boca de todos os profetas, Ele as
cumpriu. A esse Jesus, Deus o ressuscitou. Deus o fez tanto Senhor
quanto Cristo. Tendo sido, pela mão direita de Deus, exaltado e havendo
recebido do Pai a promessa do espírito, ele derrama sobre vós, isso que
vedes e ouvis. Arrependei, para que sejam apagados os vossos pecados;
para que o Pai, pois, possa enviar o Cristo, antes anunciado a vós, o
mesmo Jesus; a quem os céus devem receber até os tempos da restauração
de todas as coisas”.
O
evangelho do Reino, a mensagem de Jesus, subitamente havia sido
transformada no evangelho do Senhor Jesus Cristo. Eles agora
proclamavam os fatos da sua vida, morte e ressurreição e pregavam a
esperança de um pronto retorno dele a este mundo, para concluir o
trabalho que começara. Assim, a mensagem dos primeiros crentes tinha a
ver com a pregação sobre os fatos da sua primeira vinda e com o
ensinamento da esperança da sua segunda vinda, um evento que eles
consideravam estar muito próximo.
Cristo
estava a ponto de se transformar no credo da igreja que rapidamente se
formava. Jesus vive; ele morreu pelos homens; ele trouxe o espírito; e
ele virá de novo. Jesus preencheu todos os pensamentos dos homens e
determinou todo o conceito novo sobre Deus e sobre tudo o mais. Eles
estavam por demais entusiasmados com a nova doutrina de que “Deus é Pai do Senhor Jesus” para preocuparem-se com a velha mensagem de que “Deus é o Pai amantíssimo de todos os homens”,
e mesmo de cada indivíduo. É bem verdade que uma manifestação
maravilhosa de amor fraternal e de uma boa vontade inigualável surgiu
nas primeiras comunidades de crentes. Mas era uma irmandade de crentes
em Jesus, não uma comunidade de irmãos na família do Reino do Pai nos
céus. A boa vontade deles cresceu do amor nascido do conceito da
auto-doação de Jesus e não do reconhecimento da irmandade do homem
mortal. Contudo, estavam repletos de alegria e viveram vidas tão novas e
únicas que todos os homens foram atraídos para os seus ensinamentos
sobre Jesus. Cometeram o grande erro de tomar os comentários vivos e
ilustrativos a respeito do evangelho do Reino de Deus, pelo evangelho em
si, mas ainda assim aquela era a maior religião que a humanidade havia
conhecido até então.
Inequivocamente,
uma nova comunidade estava surgindo no mundo. A multidão de crentes
continuava perseverante nos ensinamentos e na comunhão com os
apóstolos, na partilha do pão e nas orações. Eles chamavam-se de irmão e
irmã entre si, saudavam-se com um beijo sagrado e ministravam aos
pobres. Era uma comunidade de vida, bem como de adoração. Não eram
comunitários por obrigação, mas pelo desejo de compartilhar os seus
bens com os seus irmãos de crença. Eles esperavam, confiantes, que
Jesus fosse retornar, para completar o estabelecimento do Reino do Pai,
ainda naquela geração. Essa espontaneidade ao compartilhar as posses
terrenas não era um aspecto direto do ensinamento de Jesus, ela surgiu
porque esses homens e mulheres confiavam sinceramente que ele
retornaria a qualquer dia, para completar o seu trabalho e consumar o
Reino. Mas os resultados finais, desse experimento bem-intencionado de
amor fraternal irrefletido, foram desastrosos e trouxeram sofrimentos.
Milhares de crentes honestos venderam as suas propriedades e dispuseram
de todos os seus bens capitais e outros bens produtivos. Com o passar
do tempo, os recursos minguantes daquele sistema cristão de “compartilhar por igual”
chegaram ao fim – mas o mundo não. Muito cedo os crentes em Antióquia
estavam fazendo uma coleta para que os demais crentes, em Jerusalém,
não morressem de fome.
Naqueles
dias eles celebraram a Ceia do Senhor, do modo como foi estabelecida;
quer dizer, reuniram-se para uma refeição social de bom companheirismo e
compartilharam do sacramento ao final da refeição.
Inicialmente eles batizavam em nome de Jesus; passaram quase vinte anos antes que começassem a batizar em “nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
O batismo era o único quesito para admissão à comunidade de crentes.
Não tinham ainda nenhuma organização; era simplesmente a irmandade de
Jesus.
Essa seita de
Jesus estava crescendo rapidamente e uma vez mais os saduceus
preocupavam-se com ela. Os fariseus pouco se incomodavam com a
situação, vendo que nenhum dos ensinamentos, de nenhum modo, interferia
com a observância das leis judaicas. Mas os saduceus começaram a
encarcerar os líderes da seita de Jesus, até que fossem convencidos a
aceitar os conselhos de Gamaliel, um dos rabinos líderes, que lhes
aconselhou: “Afastem-se
desses homens e deixem-nos em paz, pois se esse conselho ou essa obra
for dos homens, derrubar-se-á por si; mas, se for de Deus, não sereis
capaz de derrubá-la, e que não sejais apanhados lutando contra Deus”.
Eles decidiram seguir o conselho de Gamaliel e sobreveio um período de
paz e calma em Jerusalém, durante o qual o novo evangelho sobre Jesus
espalhou-se rapidamente.
E
assim tudo andava bem em Jerusalém, até a época da chegada dos gregos,
em grande número, vindos de Alexandria. Dois dos alunos de Rodam
chegaram em Jerusalém e converteram muitos entre os helenistas. Entre os
seus primeiros convertidos estavam Estevão e Barnabé. Esses hábeis
gregos não tinham o ponto de vista dos judeus e não se adequaram tão bem
ao seu modo de adoração e a outras práticas cerimoniais. E foram os
feitos desses crentes gregos que acabaram com as relações pacíficas
entre a irmandade de Jesus e os fariseus e saduceus. Estevão e o seu
companheiro grego começaram a pregar mais conforme o que Jesus ensinara,
e isso os colocou em conflito imediato com os potentados judeus. Num
dos sermões públicos de Estevão, quando ele chegou ao ponto objetável do
discurso, eles dispensaram todas as formalidades do julgamento e
começaram a apedrejá-lo ali mesmo, até a morte.
Estevão,
o líder da colônia grega dos crentes de Jesus em Jerusalém, assim,
tornou-se o primeiro mártir da nova fé e a causa específica para que
acontecesse a organização formal da igreja cristã inicial. Essa nova
crise levou ao reconhecimento de que os crentes não podiam continuar
como uma seita dentro da fé judaica. Todos eles concordaram que deviam
separar-se dos não crentes; e um mês depois da morte de Estevão a
igreja em Jerusalém foi organizada, sob a liderança de Pedro; e Tiago, o
irmão de Jesus, passou a ser o seu dirigente titular.
E
então irromperam as novas e incansáveis perseguições feitas pelos
judeus, de modo que os instrutores ativos da nova religião sobre Jesus,
que subseqüentemente em Antióquia foi denominada de cristianismo,
saíram até os confins do império proclamando Jesus. Para levar essa
mensagem, antes do tempo de Paulo, a liderança estava nas mãos dos
gregos; e esses primeiros missionários, como também os posteriores,
seguiram a rota antiga dos passos de Alexandre, indo até a Antióquia,
por Gaza e Tiro e, depois, até a Macedônia, pela Ásia Menor; e então
para Roma e na direção de todos os confins do império.
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